Uma em cada cinco crianças portuguesas está exposta à pobreza, de acordo com um relatório da Comissão Europeia publicado na passada semana. Portugal é um dos oito países da Europa onde se registam níveis mais elevados de pobreza infantil, mais especificamente, nas que vivem com adultos empregados.

O relatório indica que o risco abrange tanto crianças que vivem com adultos desempregados como as que vivem em lares onde há emprego. Portugal está em segundo lugar na lista de países com maior pobreza infantil, apenas ultrapassado pela Polónia, ambos com 20%.

As causas da pobreza infantil

A subida do desemprego, o baixo nível de vida e a elevada taxa de abandono escolar, são as principais razões para um aumento da pobreza. De acordo com dados de 2005 da Eurostat, os trabalhadores portugueses, em conjunto com os polacos, são os que apresentam a maior taxa de risco de pobreza, devido a baixos rendimentos, na União Europeia.

Jardim Moreira, presidente da rede Europeia Anti-Pobreza-Portugal (REAPP) refere ao JPN que uma parte dos trabalhadores portugueses são pobres. “Portanto, não têm como dar condições para educar com qualidade dos seus filhos, isto porque eles próprios não tiveram formação nem qualificação na sua infância”, explica.

O presidente da REAPP fala numa “pobreza hereditária” que é um dos principais problemas e que é difícil de mudar. “Como os pais não têm formação nem qualificação acham que os seus filhos podem viver sem frequentar as escolas”, considera. De acordo com o relatório da Comissão Europeia, as crianças mais desprotegidas são aquelas cujos encarregados de educação estão desempregados e que vêm dos meios mais encarecidos.

Jardim Moreira critica as políticas nacionais por “responderem mais à pobreza dos idosos”. “A verdade é que, o sistema em que vivemos, o sistema capitalista e liberal, cria a ilusão de que os problemas humanos apenas se resolvem com dinheiro. As políticas [vigentes] criam a subsídio-dependência. Ora, é necessário que em primeiro lugar estejam as famílias e a sua qualificação e não o dinheiro”, sublinha o responsável.

Banco Alimentar distribuiu cinco toneladas de produtos em 2007

A alimentação inadequada das crianças é também um grave problema, de acordo com o Banco Alimentar Contra a Fome. O presidente da direcção, Vasco António diz que a associação “lida com instituições que fazem chegar os alimentos aos carenciados”.

“O Banco Alimentar poderia distribuir bastante mais produtos, se os arranjasse. Nós temos mais de cem instituições, que não englobam apenas crianças, que estão em lista de espera”, revela. Vasco António refere ainda que o ano passado foram distribuídas cinco toneladas de produtos, “mas a verdade é que é manifestamente pouco”. “No distrito do Porto cobrimos cerca de 60 a 70 mil pessoas carenciadas, mas temos noção de que há mais.”

Possíveis soluções

Virgínia Ferreira, socióloga, refere que o elevado risco de pobreza infantil “é um indicador que reflecte a situação do país”. A socióloga defende que as soluções passam por resolver outros problemas associados através de “políticas de desenvolvimento, de incentivo ao investimento, de apoio à criação de emprego e sobretudo também apoio, através de acção social e estímulos à integração, de famílias [carenciadas] para evitar a exclusão social.” Virgínia Ferreira defende também que a comunidade tem de ajudar as famílias a conseguirem sustentar as suas próprias necessidades.