São 11h15 e a rua Júlio Dinis, no centro do Porto, começa a ficar deserta. Ao longe avista-se um polícia que desvia o trânsito. As máquinas param e os camiões carregados de pedra dispersam para a rua.

Três avisos sonoros ditam o início das explosões para a construção de um parque subterrâneo em frente ao edifício Parque Itália, com centro comercial. As portas das lojas fecham e os transeuntes ficam retidos em segurança. Cinco minutos depois, a sirene volta a soar e aponta o final dos rebentamentos.

O barulho incomoda quem passa, quem trabalha e quem vive nas imediações da obra.
Segundo Lídia Branco, advogada num dos escritórios do Parque Itália, “há dias em que é completamente impossível trabalhar”. A advogada sublinha que “neste momento todas as pessoas se queixam, fundamentalmente pelo barulho e pelas explosões”. “Até já lhe chamam o ‘Kuwait Parque’. Parece que estamos a viver debaixo de uma guerra.”, reforça.

A obra tem licença desde 1999, mas só arrancou o ano passado. Alguns comerciantes queixam-se da falta de pré-aviso. “Fecharam-nos os corredores com tapumes a 13 de Agosto. Andaram dois ou três dias com as máquinas a desmantelar o jardim e depois a obra parou. Voltaram a iniciar a obra em Novembro”, afirma a lojista Fátima Valério.

No entanto, Jaime Gomes, representante da BragaParques, empresa concessionária da obra, desmente o interregno de três meses e explica que “as obras arrancaram em Dezembro do ano passado”.

“Corredor da morte”

Os tapumes em volta da obra escondem as lojas do piso térreo, o que, segundo os comerciantes, prejudica as vendas. Vários lojistas falam em quebras de 30 a 50%.

Jaime Gomes desvaloriza as quebras. Para o representante da Bragaparques, “o Parque Itália nunca dinamizou o comércio”, pelo que “entre o que está e o que estava, a diferença é pouca”. Por outro lado, realça que “a obra que está a ser executada vai revitalizar toda aquela zona”.

Para além do “problema estético” que a vedação representa, Lídia Branco fala na falta de segurança. De acordo com a advogada, “esta é uma zona de alguma delinquência durante a noite”, que agravou com a colocação dos painéis. “Há quem lhe chame até o corredor da morte”, enfatiza Lídia Branco.

Obra estará completa em Setembro

As explosões decorrem desde há dois meses e vão durar até meados de Março. Têm hora marcada, normalmente, duas vezes por dia.

Os rebentamentos têm tido repercussões a nível das infra-estruturas do Parque Itália. Os comerciantes queixam-se da existência de fissuras nas paredes, infiltrações e lâmpadas queimadas ou deslocados. “Não temos reclamação de ninguém até a data, a não ser a queda de dois focos de luz numa loja”, explica Jaime Gomes. “Estamos a falar de um edifício que tem uma construção muito fraca”, explica o representante, salientando que as fissuras são normais.

Jaime Gomes adiantou ainda que na altura da construção do Parque Itália “um edificio com o mesmo tipo de construção em Matosinhos caíu”, mas nega que o mesmo possa acontecer com o centro comercial.

O término da obra está previsto para Setembro. Para já a única certeza é a da existência de um parque de estacionamento subterrâneo. Segundo o representante da BragaParques, para a parte de cima do parque, já existiu a possibilidade de uma concesssão de restauração, o que só a câmara do Porto poderia confirmar. O JPN tentou contactar a entidade, que não se mostrou disponível para prestar declarações.