Depois da morte do número dois das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), Raúl Reyes, no território do Equador, no passado domingo, o presidente venezuelano Hugo Chavez alertou que “uma invasão militar da Venezuela [por parte da Colômbia] seria algo extremamente grave e motivo para guerra”.

Reyes, considerado o porta-voz internacional da guerrilha, foi morto durante uma incursão do exército colombiano em território do Equador, a dois quilómetros da fronteira, numa zona tida como sendo de forte presença das FARC. O acto de Bogotá foi denunciado pelo presidente do Equador, Rafael Correa, citado pelo diário colombiano El Tiempo, como tendo sido “uma grave e verificada agressão” contra o seu país.

Possibilidade de guerra “é pouca”

Andrés Malamud, especialista em relações internacionais, assegura que “a possibilidade de uma guerra entre a Venezuela e a Colômbia é pouca”. O analista explica que a pouca probabilidade se deve, principalmente, a duas razões: “uma externa, já que a Colômbia é militarmente muito mais forte e uma interna, porque a Venezuela está dividida“.

Para Malamud, a mensagem de Chavez à Colômbia tem como objectivo “evitar que o país vizinho invada o seu território”. Segundo o professor do ISCTE, o carismático líder “não está a propor uma guerra”, está, sim, a dissuadir Bogotá de entrar em território venezuelano. “Ao procurar um inimigo externo, Chavez pretende unir a frente interna venezuelana em prol da liderança”, esclareceu o especialista.

“A Venezuela só compra e vende aos principais rivais”

Em entrevista ao JPN, Andrés Malamud afirma não ter dúvidas que, em caso de guerra, a Venezuela sairia derrotada. Segundo o analista, os principais inimigos de Chavez – Estados Unidos e Colômbia -, são, ao mesmo tempo, os seus principais sócios comerciais. “A Venezuela não vende e não compra senão aos seus principais rivais”, afirma. “Na Venezuela, neste momento falta açúcar, farinha e leite, o que resta é o petróleo. Se houvesse uma guerra com a Colômbia, o abastecimento não iria ser garantido e Chavez teria tudo para perder”, sublinha Malamud.

Recorde-se que, no ano passado, Chavez perdeu o referendo cuja medida principal previa que deixasse de existir uma limitação de mandatos presidenciais. Para o analista político, esta foi uma “derrota interna”, que colocou Hugo Chavez numa “situação de fraqueza”. “O momento mau do líder venezuelano agravou-se com a morte de Raúl Reyes, seu principal aliado na zona. Agora já não tem com quem negociar”, concluiu Andrés Malamud.

Brasil vai intervir diplomaticamente

O Brasil já demonstrou alguma preocupação pelo clima de tensão que existe entre a Colômbia, a Venezuela e o Equador. Citado pela AFP, o assessor do presidente Lula da Silva, Marco Aurelio Garcia, explicou que o Brasil está, em conjunto com outros países da região como o Argentina e o Chile, a empreender um esforço diplomático no sentido de apaziguar as tensões.