O ex-reitor da Universidade do Porto (UP) Novais Barbosa apoia “francamente” a transformação da instituição em fundação pública de direito privado porque a liberdade da UP tem vindo a ser “cerceada” por ser “sucessivamente prejudicada nas distribuições de verbas” governamentais.

Apesar do apoio à transformação da universidade, Novais Barbosa, actualmente presidente da UPTEC, sublinha ao JPN que o RJIES (Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior) foi a saída que o Ministério da Ciência e Tecnologia e do Ensino Superior (MCTES) criou para “concretizar a autonomia das universidade por uma via indirecta”. “É uma maneira estranhíssima e muito portuguesa de resolver os problemas, estabelecer-se uma lei e depois arranjar formas legais para contornar essa lei”.

“A formação ao longo da vida é essencial”

Face às recentes estatísticas que colocam cerca de 40 mil licenciados no desemprego, Novais Barbosa acredita que uma carreira profissional não se pode limitar a uma só área.

“As pessoas têm de se convencer que a sociedade actual vai exigir que, ao longo de uma carreira, as pessoas façam determinadas mudanças de percurso. (…) A formação ao longo da vida é essencial e as pessoas têm de se convencer disso”, defende.

Reitor durante oito anos

José Ângelo Novais Barbosa orientou os destinos da Universidade do Porto (UP) durante 14 anos, primeiro como vice-reitor (1992-1998) e depois como reitor até 2006. Actualmente é presidente do Parque de Ciência e Tecnologia da UP (UPTEC), uma incubadora de empresas de base tecnológica.

O desconhecimento dos jovens acerca do curso a que se candidatam e a desequilíbrio entre os objectivos dos estudantes e a realidade do mercado de trabalho são, para o presidente da UPTEC, as razões para o elevado número de licenciados desempregados.

“É necessário manter a diversidade das formações que a universidade providencia”, em particular no momento da licenciatura, defende. Depois, “o 2º ciclo pode ser mais orientado para o mercado trabalho”. “Não é anormal que uma pessoa que tire um curso numa determinada área acabe por ter um percurso profissional em áreas completamente diferentes”, conclui Novais Barbosa.

“Sociedade civil” tem de compreender Bolonha

Enquanto reitor, Novais Barbosa apoiou a entrada do processo de Bolonha nas vidas dos estudantes. Assumindo-se como adepto da mudança, o presidente da UPTEC considera que Bolonha é “uma efectiva oportunidade” e acredita que a adaptação dos cursos aos novos princípios “está a correr bem”.

No entanto, o ex-reitor confessa que existe “uma falha enorme associada a este processo”. Para Novais Barbosa, devia-se distinguir mais claramente as licenciaturas antes e após Bolonha: “Nunca se devia ter chamado licenciatura ao 1º ciclo. Hoje estamos sem ter uma definição correcta entre o que era um licenciado pré-Bolonha e um licenciado pós-Bolonha”.

O presidente da UPTEC sublinha que, como consequência, o processo “desenvolveu-se dentro das universidades mas não na sociedade civil” e, por isso, a sociedade tem a noção que o processo de Bolonha “veio contribuir para a redução da qualidade do ensino superior”.