No Aeroporto Francisco Sá Carneiro, Renato Ribeiro, de 14 anos, aluno da Escola do Cerco do Porto, estava duplamente ansioso: era a primeira vez que andava de avião e ia ao Parlamento Europeu. Foi um dos “jovens líderes” portugueses que foram a Bruxelas a semana passada apresentar uma Carta de Direitos Europeia.

Ao Renato juntaram-se Mari Janke, da Escola Secundária José Estêvão, de Aveiro, Bogdan Bodyanchuk, da D. Francisco Manuel Melo, de Lisboa, Délia Micu, da Dr. António Carvalho Figueiredo, e Ana Sofia Mendes, da Escola da Apelação, ambas da capital, na equipa de jovens eleitos na formação sobre liderança realizada em Janeiro, no Instituto Português da Juventude (IPJ), em Lisboa.

Os 46 jovens que foram ao Parlamento Europeu fazem parte da “família INDIE”. O INDIE (Integração e Diversidade na Educação) é um projecto do British Council, que visa uma melhor integração, respeito e igualdade de oportunidades dos jovens filhos de pais imigrantes nas escolas que frequentam. Dar voz aos jovens e ajudar a desenvolver a próxima geração europeia é o objectivo do projecto, explica Mark Levi, gestor do INDIE.

No dia 27 de Fevereiro os 46 jovens europeus reuniram-se e apresentaram a Carta de Direitos do seu país e, em conjunto, elaboraram a Carta de Direitos Europeia em que consta, essencialmente, o respeito pela diversidade, pelos diferentes pontos de vista, pela igualdade de formação e de oportunidades.

A carta foi apresentada aos professores e directores das escolas que os jovens estavam a representar e na sexta-feira divulgaram-na no Parlamento Europeu onde também estavam presentes os representantes políticos de cada país envolvido (Espanha, Portugal, Inglaterra, Escócia, Pais de Gales, Alemanha, Grécia, Bélgica, Itália e os Países Baixos).

“Muitos jovens trazem os problemas do bairro para a escola”

Muitos destes jovens já foram ou viram colegas a serem discriminados e “gozados” nas suas escolas. Um estudo realizado pelo British Council a 3.500 alunos de escolas secundárias mostra que o bullying é um problema importante nas escolas e que as principais razões de discriminação e do gozo aos colegas são a aparência física, cor da pele e o que vestem.

Délia Micu é romena e foi eleita a jovem líder da Escola Dr. António Carvalho Figueiredo. Contou ao JPN as dificuldades que sentiu quando chegou a Portugal e a sua integração na escola. Presenciou também outros exemplos semelhantes ao que já passou.

Em Itália, o cenário é idêntico. Giuliana Amoasah, jovem líder escolhida para fazer a apresentação da Carta de Direitos Europeia, refere que a cor da pele e a cultura são os principais motivos de discriminação na sua escola.

As escolas escolhidas para irem a Bruxelas enfrentam sérios problemas de discriminação, violência e de disciplina. “Muitos destes jovens trazem os problemas do seu bairro para a escola”, desabafa Isabel Araújo, professora da Escola do Cerco. Na Escola da Apelação de Lisboa, os problemas são uma constante, refere o presidente do Conselho Executivo Félix Bolaños.

A cabo-verdiana Ana Sofia Mendes revela que o gozo é uma constante na escola. Disse que vai tentar transmitir os valores presentes na Carta de Direitos Europeia e a experiência que trouxe de Bruxelas para ajudar a solucionar os problemas da Escola da Apelação, onde estuda. “Se nós mudarmos, toda a gente muda”, acrescentou Bogdan Bodyanchuk, jovem ucraniano a viver e a estudar em Portugal.

Pós-Bruxelas: o que fazer e como agir?

Os jovens líderes portugueses que foram ao Parlamento Europeu representar o seu país disseram ao JPN que a primeira coisa a fazer quando chegarem às suas escolas é contar aos colegas o que se passou em Bruxelas e apresentarem a versão final da Carta de Direitos Europeia. Giuliana Amoasah já tem muitas ideias para pôr em prática o INDIE e apresenta as razões.

Mari Janke, aluna da Escola José Estêvão, já tem uma reunião agendada para esta semana com o Conselho Executivo da escola e com os nove colegas que também foram à formação do projecto INDIE no IPJ. “Dei a ideia de fazer o grupo INDIE na escola juntamente com a associação de estudantes para promover a igualdade e o respeito pelas diferentes culturas com reuniões e tertúlias”, conta.

Existe o objectivo “alargar o projecto às outras escolas de Aveiro” e à restante comunidade, adiantou a directora da escola, Alda Martins.