Pobreza, miséria, desemprego, crise económica, são os alertas de várias organizações não-governamentais (ONG) como a Amnistia Internacional, Christian Aid, Cafod, Médicos do Mundo, Care, Oxfam, Save the Children, Trocaire, divulgados esta quinta-feira no relatório “The Gaza Strip: A humanitarian implosion” (em PDF).

O documento refere que os sucessivos bloqueios económicos levados a cabo por Israel desde os anos 90 na Faixa de Gaza estão a causar a pior crise humanitária naquela zona desde 1967 (ano da ocupação militar da Faixa de Gaza por Israel na sequência da guerra dos Seis Dias), e apela à comunidade internacional para que pressione o governo israelita a levantar o bloqueio sobre a região constituída por 1,5 milhões de palestinianos.

70% das famílias vivem abaixo do limiar da pobreza

O documento menciona, ainda, que 80% dos habitantes da Faixa de Gaza – representando cerca de um milhão de pessoas – não têm acesso às necessidades básicas de comida, estando dependentes da ajuda humanitária internacional. O Programa Alimentar Mundial, agência das Nações Unidas para a ajuda alimentar (World Food Programme, em inglês) refere que, entre Junho e Setembro de 2007, 70% das famílias viviam com cerca de um dólar por pessoa por dia, quando o limiar mínimo de pobreza extrema estipulado mundialmente é de 2,3 dólares por dia.

Os sucessivos aumentos de preços dos cereais, nomeadamente do trigo e do arroz, bem como a escassez de óleo alimentar, leite de bebé e a falta de água agravam a crise humanitária que se faz sentir na região.

Escolas e hospitais sem luz

As infra-estruturas públicas como hospitais e escolas estão a ter cortes de electricidade de oito a 12 horas por dia, visto que o governo israelita não está a assegurar a importação e a manutenção de energia eléctrica desde Fevereiro e os geradores utilizados na produção de electricidade são insuficientes para abastecer toda a região.

O acesso aos cuidados médicos básicos é outra preocupação referida no relatório. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), citada no documento, o número de pacientes que necessitavam de cuidados médicos e que tiveram permissão para sair de Gaza baixou de 89% em Janeiro de 2007 para 64% em Dezembro do mesmo ano.

“A economia já colapsou”

“A economia de Gaza não está perto de implodir, já implodiu”, refere o relatório. O sector produtivo está paralisado. Nos últimos meses a maioria das empresas privadas faliram e 95% da indústrias estão paradas. 3.500 de 3.900 fábricas fecharam desde Setembro de 2007, deixando 75% da população activa do sector privado no desemprego.

ONGs apelam ao processo de paz entre israelitas e palestinianos

No relatório divulgado pela coligação formada por algumas ONGs, sobretudo do Reino Unido, além da caracterização do clima económico e social, a coligação pediu à comunidade internacional que pressione Israel a levantar o bloqueio económico, de forma a abrir portas ao processo de paz entre Israel e a Palestina.

O documento alerta para a ilegalidade do bloqueio israelita da Faixa de Gaza. “As políticas levadas a cabo por Israel são ilegais ao abrigo da lei internacional”, refere. (Os palestinianos são protegidos por lei pela Quarta Convenção de Genebra, assinado por Israel em 1949).

Em Janeiro de 2008 o governo britânico bem como algumas organizações humanitárias, condenaram o bloqueio levado a cabo por Israel.