Partilhar experiências e chegar a outras mulheres. Foram estes os principais motivos das activistas da União de Mulheres Resposta e Alternativa (UMAR) que as levaram a percorrer o país de norte a sul, de sexta-feira a domingo, na Rota dos Feminismos. A viagem foi uma preparação para o Congresso Feminista, em Julho deste ano.

A viagem pretendia imitar o percurso que a jornalista portuguesa Maria Lamas levou a cabo nos anos 40. Os artigos de Lamas foram publicados num livro, “As Mulheres do Meu País”, “um registo etnográfico social dos problemas das mulheres portuguesas”, segundo Artemisa Coimbra, da UMAR.

“Já desde há muito tempo alimento a expectativa de chegar às mulheres de outros locais que não os grandes centros urbanos”, diz Manuela Tavares, investigadora e sócia fundadora da UMAR, que teve a ideia de fazer a Rota. “Como investigadora, para mim é muito importante saber o que as mulheres pensam sobre a luta pelos seus direitos”, acrescenta.

“Feminista radical, com muita honra”

O feminismo ainda não é obsoleto, defende a UMAR. “As mulheres são cada vez mais postas de lado. As mulheres são as que têm melhores médias, nas universidades, e os homens é que conseguem melhores empregos. Tudo por causa da maternidade”, declara Ana Paula Canotilho, da UMAR.

Maria José Magalhães, vice-presidente da organização, conclui, depois da sua experiência no Movimento da Esquerda Socialista, “que a luta comum pela esquerda não chegava para emancipar as mulheres, para lhes dar espaço”. Declara-se “feminista radical, com muita honra”.

A luta pelos direitos da mulher também tem de ser desmistificada. Artemisa Cláudia, estudante, confessa não ser muito activista (“Tenho uma mãe que me puxa para estas coisas…”), mas não acha que o feminismo seja coisa de ontem. “Tenho muitos amigos que ainda acham que feminismo é dizer mal dos homens.”

“Para lutarmos pelos direitos das mulheres, temos de tirar direitos aos homens”

Depois de partir do Porto, a primeira paragem é em Melgaço, onde as activistas foram recebidas pela vereadora municipal da Cultura. A divulgação começa na feira da vila, onde se inicia o inquérito conduzido por Manuela Tavares.

A investigadora questiona mulheres e homens: “O que é o feminismo? A luta pelos direitos das mulheres, pelos direitos humanos, contra os homens ou uma luta ultrapassada?”. Maria José Magalhães pergunta aos transeuntes como é a mulher ideal. As respostas variam: de “trabalhadeira” a “é aquela que faz tudo o que o homem quer”, passando por “sou eu!”.

No autocarro, partilham-se histórias do tempo do fascismo, de mulheres detidas e agredidas por protestarem contra a prisão dos seus maridos, das fugas de maridos e amigos das prisões do Estado Novo.

Fina d’Armada tem uma história diferente. Ao contrário das irmãs, todas mais velhas, foi tirar o curso de História, depois de convencer o pai a dar-lhe parte da herança. Esta “licenciada em História masculina” diz que “a história das mulheres tem de entrar nas escolas, para termos mais auto-estima, mais raízes”.

“Parece que as mulheres estiveram sentadas a ver os homens construírem o mundo”, afirma. Desde que se interessou pelo feminismo, na década de 70, muita coisa mudou, mas ainda há um caminho longo a percorrer. Ela diz: “para lutarmos pelos direitos das mulheres, temos de tirar direitos aos homens. Para termos mais mulheres na Assembleia da República, temos de tirar homens de lá. Para dividir o trabalho doméstico, temos de lhes tirar o futebol e os chinelos”.