António Horta Fernandes, consultor científico do Instituto de Defesa Nacional, explicou que durante a Guerra do Iraque “os Estados Unidos da América conseguiram uma hegemonia a nível petrolífero no país e no Médio Oriente, e por esse motivo não lhes convém dar por terminado o conflito, sob pena de perderem esse domínio”.

Cinco anos depois, a continuidade das tropas no território enquadra-se na perseguição dos objectivos geopolíticos, geoestratégicos e geoeconómicos dos Estados Unidos, acrescenta Horta Fernandes.

Apesar de agora realizar eleições livres e ter uma nova Constituição, o Iraque está longe de ter alcançado a paz e a estabilidade interna que os EUA proclamam perseguir. Carlos Gaspar, director do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI), considera que “a estratégia de democratização do Médio Oriente não tem avançado” .

O director do IPRI aponta “múltiplos objectivos na invasão do Iraque”. Desde logo, na dimensão estratégica, “impedir que outras grandes potências consigam ter uma penetração politica e militar efectiva no Golfo Pérsico e possam pôr em causa a posição dos Estados Unidos como o garante dos equilíbrios regionais e do acesso geral aos recursos energéticos”. Na dimensão regional, o objectivo passa por “impedir a emergência de uma grande potência regional que não seja aliada dos Estados Unidos e garantir a sua própria permanência militar no Golfo Pérsico”.

“Estrondosa derrota dos EUA”

O actual panorama do Iraque e as elevadas perdas materiais e morais sofridas pelos EUA, são alguns dos argumentos que, segundo os dois especialistas, explicam a derrota atribuida à coligação no conflito.

”Dos objectivos que estavam previstos para a intervenção, praticamente nenhum foi cumprido. Se a guerra acabasse hoje, acabaria com a estrondosa derrota dos EUA e da coligação”, explana Horta Fernandes.

A invasão feita sob falsos pretextos, as erradas previsões de duração e custos da guerra e o escândalo das sevícias infligidas a detido iraquianos em Abu Ghraib danificaram a imagem dos EUA. A legitimidade da coligação foi comprometida depois de ter violado os direitos internacionais e iniciado a intervenção sem o consentimento da ONU.

Carlos Gaspar afirma que “as forças militares norte-americanas não souberam programar a ocupação do Iraque. A invasão provocou divisões muito profundas entre os aliados ocidentais, provocou uma vaga de instabilidade regional e fixou recursos políticos e estratégicos muito consideráveis, que limitaram a capacidade de intervenção dos Estados Unidos noutros conflitos.”

No discurso desta quarta-feira, Bush reconheceu que a batalha no Iraque “foi mais longa, difícil e dispendiosa” do que tinha sido antecipado, mas recusou a assumir uma derrota. “É uma luta que temos de vencer”, acrescentou. “A batalha no Iraque é nobre, é necessária e é justa. E irá terminar em vitória”. Cinco anos depois, ainda não se sabe quando, nem como a guerra vai terminar.