“Não posso dizer hoje se o uso da força no Iraque vai durar cinco dias, cinco semanas ou cinco meses. Mas por certo não durará mais do que isso”. Em Novembro de 2002 esta era a convicção de Donald Rumsfeld, então secretário de Estado da Defesa dos EUA. A 20 de Março de 2003 um contingente de 100 mil homens atacou o Iraque.

Cinco anos depois, a guerra continua e especialistas como António Horta Fernandes, consultor científico do Instituto de Defesa Nacional, não tem dúvidas quando afirma que “se a guerra acabasse hoje, acabaria com a estrondosa derrota dos EUA e da coligação”.

Dias antes da invasão, na Cimeira das Lajes, nos Açores, Durão Barroso recebeu os principais líderes da coligação (George W. Bush, Tony Blair e José Maria Aznar) e a invasão do Iraque ficou acordada. Neutralizar a ameaça das armas de destruição maciça e reforçar a luta contra o terrorismo internacional foram as principais justificações oficiais dadas pela coligação para a intervenção. Nos primeiros meses do conflito ficou provado que tais armas nunca existiram e a suposta ligação do regime de Saddam Hussein, que veio a ser capturado e enforcado, à Al-Qaeda não foi comprovada.

Em Maio de 2003, com o regime derrubado, a administração Bush anunciou o final dos combates. Contudo, a coligação militar, liderada pelos EUA e Reino Unido, continuou com a ocupação do território sob nova justificação: democratizar e estabilizar o país.

Passados cinco anos, a coligação não tem data definida para terminar a sua missão. “Enquanto o perigo terrorista permanecer, os Estados Unidos da América vão continuar a lutar contra o inimigo onde quer que ele faça a sua posição. Vamos continuar na ofensiva”, garantiu esta quarta-feira o presidente Bush. A decisão foi aplaudida no Pentágono, mas cada vez mais a opinião pública está contra a continuidade da guerra. A maioria dos americanos encara agora a invasão como um erro e apela para a retirada das tropas.

Bush argumenta que a América “tem aprendido através da dura experiência o que acontece quando puxamos as nossas forças para trás demasiado rápido – os terroristas e extremistas avançam, preenchem lacunas, estabelecem refúgios e usam-nas para espalhar o caos e a carnificina”.

Entre 89 mil e 1 milhão de baixas iraquianas

Mais de 4 mil soldados da coligação perderam a vida nestes cinco anos de conflito. Segundo dados do Iraq Coalition Casualty Count, 3.857 eram americanos, 171 britânicos, 33 italianos e 98 de outros 17 países da coligação.

Contudo, não há estimativas exactas do número de vítimas mortais iraquianas. Os números avançados pelos estudos variam entre 89 mil e 1 milhão de baixas. O valor mais reduzido, entre 82 e 89 mil mortos, é apontado pelo Iraq Body Count (IBC). Contudo, a organização sediada em Londres apenas contabiliza as mortes confirmadas nos meios de comunicação social, pelo que está aquém do valor real.

No extremo oposto encontra-se a pesquisa da Opinion Research Business (ORB), um grupo de sondagens britânico, que estima que cerca de 1 milhão de iraquianos perderam a vida até ao momento no conflito. Estudos intermédios indicam valores como 151 mil e 650 mil mortos, tendo sido este último altamente contestado pela Casa Branca e adjectivado de “exagerado”.

Situação humanitária “crítica”

Segundo o Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), “a situação humanitária na maior parte do país é uma das mais críticas do mundo”. Estima-se que actualmente cerca de 6 milhões de iraquianos precisem de ajuda humanitária.

Bagdade tem menos de oito horas por dia de electricidade, pouca água potável e há cerca de 30 mil camas nos hospitais do Iraque, quando são precisas 80 mil, segundo o CICV. Em consequência, a agência da ONU para os refugiados calcula que quase um quinto dos iraquianos (cerca de 5 milhões de 27 milhões de habitantes) está deslocado internamente ou refugiado em países vizinhos, como a Síria e a Jordânia.

Para além dos danos humanos, esta é já a guerra mais dispendiosa de sempre para os EUA depois da II Guerra Mundial. Antes da intervenção, Bush fixou os custos da guerra entre os 32 e os 38 mil milhões de euros. Um livro, publicado recentemente, do Nobel da Economia Joseph Stiglitz e Linda Bilmes aponta para gastos muito superiores..

No discurso de quarta-feira, Bush defendeu que nos últimos meses tem havido “um exagero nas estimativas dos custos desta guerra” e que os custos “são necessários quando consideramos o custo de uma vitória estratégicas dos nossos inimigos no Iraque”.