A vontade de comer pode não estar só relacionada com o sabor da comida, mas, também, com a quantidade de calorias que os alimentos têm. Esta é a principal conclusão do estudo “Food Reward in the Absence of Taste Receptor Signaling” publicado, na quinta-feira passada, na revista Neuron.

Através de experiências laboratoriais em ratos geneticamente modificados, nos quais se eliminou a capacidade de sentir o sabor dos alimentos, verificou-se que estes mamíferos desenvolviam preferência por alimentos doces, desde que tivessem conteúdo calórico. Os investigadores constataram que a orientação comportamental era acompanhada da activação de mecanismos no cérebro relacionados com a sensação de prazer.

Albino Oliveira Maia, investigador do Instituto de Biologia Molecular e Celular da Universidade do Porto (IBMC) é um dos autores do estudo. Em declarações ao JPN, o único investigador português do estudo explicou que “até agora pensava-se que o principal efeito dos alimentos no sistema de recompensa era o sabor e que os factores metabólicos iam actuar noutros centros que não da recompensa”. “O que nós demonstrámos é que efectivamente os factores metabólicos não são exclusivos do hipotálamo, também actuam noutras áreas nomeadamente as que estão associadas à sensação de prazer com o sabor dos alimentos”, afirma.

Apesar de o estudo ainda estar numa fase preliminar, o investigador do IBMC acredita que “com mais investigação, muito mais trabalho, muito mais tempo se possam chegar a conclusões e a resultados inovadores mesmo para o tratamento da obesidade humana ou até para os distúrbios alimentares”.

Investigação em Portugal

Com o apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia, Albino Oliveira Maia desenvolveu o estudo “Reward in the Absence of Taste Receptor Signaling” nos EUA porque ”para desenvolver este estudo em Portugal seria complicado devido ao investimento envolvido”, confessa o investigador.

Em Portugal “apesar das condições não serem as ideais, já há melhorias ao nível da investigação, mas falta ainda massa crítica”, diz.