Nunca teve o presidente do Zimbabué, Robert Mugabe, uma oposição tão forte, numa altura em que a grave crise económica leva a população a mostrar-se descontente com a sua governação. Contudo, o presidente zimbabueano, no poder desde 1980, data da independência face ao Reino Unido, afirma que “o MMD [Movimento para a Mudança Democrática] não irá governar nunca” o país.

“Ele quer morrer no poder. Não acredita em abandonar”, explicou ao JPN o director do programa de África do International Crisis Group (ICG), François Grignon.

Diversas organizações e analistas denunciam a quebra das regras eleitorais, afirmando que Mugabe poderá “usar de todos os meios ao seu alcance para garantir a vitória”, como afirma o Andebrhan Giorgis, conselheiro sénior do ICG. O líder do Zanu-PF (União Nacional Africana do Zimbabwe – Frente Patriótica) já fez saber que a força policial irá estar junto das urnas para auxiliar os eleitores, o que é encarado como uma medida de intimidação.

O principal partido da oposição, Movimento para a Mudança Democrática alertou ainda para uma possivel fraude eleitoral, uma vez que o actual governo mandou imprimir nove milhões de boletins de voto, quando a população do Zimbabué ronda os seis milhões. No caso dos boletins por correspondência, foram encomendados por Mugabe 600.000, sendo que apenas 20.000 têm direito a usá-los.

Os observadores dos governos ocidentais foram proibidos de estarem presentes durante o processo eleitoral, tendo apenas sido convidadas instituições e países com relações amigáveis com o Zimbabué, como a Rússia, a China, o Irão e a Venezuela.

Um relatório por parte da Human Rights Watch indica que, tal como nas eleições anteriores, as autoridades locais, os apoiantes do Zanu-PF e as forças de segurança têm sido os principais responsáveis por uma onda de violência, opressão e intimidação que se tem vindo a sentir durante a campanha eleitoral.

“Terá de ser a solução imposta”

Para Andebrhan Giorgis, esta ida às urnas será “manipulada, uma vez que Mugabe já disse que não iria perder estas eleições”. Apesar de não acreditar que esteja “preparada para agir de forma eficaz”, a União Africana deverá “negar o reconhecimento dos resultados destas eleições e deverá preparar um plano de contingência para poder prestar assistência diplomática”, acrescentou Giorgis.

Independentemente dos resultados, a formação de um governo de unidade nacional de transição parece ser a solução para resolver a situação actual do Zimbabué com melhor aceitação pela comunidade internacional.

François Grignon explicou ao JPN que “Mugabe não irá aceitar a constituição desse governo mas terá de ser forçado a isso. Terá de ser uma solução imposta”. O responsável do ICG acrescentou ainda que isso não significa que “ele terá de se afastar definitivamente, podendo ficar como presidente não executivo, até serem possíveis novas eleições”.

O MMD tem apelado para que a população saia às ruas em protesto contra os resultados de 29 de Março, que esperam que venha a permitir a Mugabe permanecer no poder por mais cinco anos. Isto poderá levar a confrontos entre a população e a força policial. Alguns analistas temem que se repita o cenário passado no Quénia.