Uma equipa de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), liderada por Filipe Monteiro, vai arrancar com um projecto “altamente ambicioso”, que tem como objectivo desvendar os mecanismos do circuito da dor durante o desenvolvimento embrionário.

O projecto vai receber, sexta-feira, da parte da Fundação Calouste Gulbenkian, o Prémio de Apoio à Investigação na Fronteira das Ciências da Vida.

Filipe Monteiro, investigador do Laboratório de Biologia Celular e Molecular da FMUP, afirmou ao JPN que o projecto procura identificar “os genes regulados por uma proteína muito particular” muito importante para a compreensão dos mecanismos de processamento da dor.

Durante dois anos, a equipa vai investigar a acção dessa proteína em neurónios da medula espinhal e do gânglio raquidiano de ratos de laboratório, durante a gestação. Nesse sentido, revelou-se fundamental para o projecto “estabelecer uma colaboração com o laboratório do doutor Diogo Castro, situado em Londres”. “O laboratório é especialista na técnica que nós pretendemos implementar na nossa faculdade”, diz.

“Trata-se de uma técnica que permite isolar complexos entre a proteína que nós estudamos e as sequências reguladoras no genoma. Se nós conseguirmos isolar esses complexos, conseguimos identificar que genes é que estão a ser regulados pela proteína em questão”, esclareceu o professor.

Resultados podem permitir regeneração de neurónios da medula espinhal

Com novos conhecimentos sobre o processo de diferenciação dos neurónios da dor durante o desenvolvimento embrionário, a FMUP pode aumentar a possibilidade de se conseguir recriar o processo de diferenciação das células estaminais para neurónios deste tipo em laboratório, o que abrirá as portas para a cura de lesões da medula espinhal, actualmente, irreversíveis.

O galardão da Gulbenkian, de 50 mil euros, “vai ser um empurrão importante porque este projecto é um desafio”. “O projecto não poderia ser financiado normalmente por outro tipo de instituições, como a Fundação para a Ciência e Tecnologia, porque não só o investigador principal é muito jovem, como não temos uma base sólida. O que nós vamos tentar obter com este projecto é exactamente ter uma base sólida para depois progredirmos no projecto e obter os resultados que nós pretendemos. É um trabalho muito ambicioso”, rematou Filipe Monteiro.