A tradição das consultas ao domicílio, que desapareceu nas últimas duas décadas, pode agora regressar com o novo regime de pagamento das mesmas. Os médicos das Unidades de Saúde Familiar (USF) do Tipo B receberão 30 euros por cada consulta que realizarem ao domicílio, até um máximo de 20 consultas por mês. Os médicos podem ir a casa dos doentes, sendo pagos de acordo com o número e qualidade dos serviços prestados.

Antes, estas consultas eram uma realidade com uma presença muito mais expressiva Portugal, mas nos últimos anos, “as pessoas deixaram de pedi-las e criou-se a ideia de que é melhor chamar a ambulância e ir para o hospital”, afirmou o Coordenador da Missão para os Cuidados de Saúde Primários, Luís Pisco, ao JPN.

O responsável acredita que esta nova forma de pagamento vai “aumentar as consultas ao domicílio, porque são uma boa prática”. A prioridade irá para “doentes acamados ou com dificuldades de mobilização ou, em situações de doenças infecto-contagiosas, em que será preferível que as pessoas sejam tratadas em casa, para não irem ao hospital e colocarem mais pessoas em risco”.

Estudo revela que consultas partem maioritariamente de iniciativa clínica

Os resultados preliminares de um estudo realizado pelo departamento de Epidemiologia do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) com a rede Médicos Sentinela (clínicos de todo o país, que colaboram com o instituto e disponibilizam dados) revelam que, até ao momento, 41% das consultas analisadas foram realizadas por iniciativa do médico, enquanto 36% partiram do desejo de um familiar ou do cuidador do doente e só 18% partiram do próprio.

Os dados revelados podem, no entanto, ser “diferentes no final do estudo, porque até agora só foram analisadas 2.229 consultas”, disse ao JPN o responsável pelo departamento de Epidemiologia do INSA e um dos autores do estudo, Marinho Falcão.

As consultas analisadas foram realizadas pelos médicos da Rede Sentinela durante o ano de 2007. Neste estudo foram tidos em conta o número de consultas, a distribuição do número de consultas por utente e médico, a iniciativa da consulta e a necessidade de referenciação.

A percentagem de utentes que tiveram, pelo menos, uma consulta domiciliária foi de 1,2%, sendo que nas mulheres com 75 e mais anos a percentagem foi de 12,1%. As patologias que registaram o maior número de consultas foram as doenças crónicas (74%), seguidas das doenças agudas (29%). Os problemas psicológicos e sociais foram os que se seguiram, com 8% e 7%, respectivamente.