O antigo presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, afirmou, esta quarta-feira, no Porto, que vê “com preocupação a falta de grandeza dos líderes contemporâneos”, explicando que para “um mundo melhor” é necessária uma “visão mais ampla” das problemáticas do novo século e uma reformulação das Nações Unidas.

Henrique Cardoso falava no auditório da Fundação de Serralves, durante uma sessão inserida nas conferências “Crítica do Contemporâneo”, subordinada ao tema “A Política”, com coordenação do antigo Presidente da República português, Mário Soares.

A conferência tinha como mote “O mundo contemporâneo nos próximos 20 anos”, mas o ex-presidente do Brasil dedicou a maior parte da sua exposição ao passado, em particular, aos últimos 50 anos do século XX, classificando os eventos que ocorreram nessas cinco décadas de “absolutamente surpreendentes”. Fernando Henrique Cardoso referiu-se, em especial, à queda da União Soviética, por “falta de acompanhamento da automação” industrial que decorria nos EUA.

Lançando várias críticas a órgãos mundiais criados no pós-Segunda Guerra Mundial, como o Fundo Monetário Internacional ou o Banco Mundial, por estarem demasiado dependentes da Reserva Federal norte-americana, o antecessor de Lula da Silva sublinhou, em várias ocasiões, que os cinco países no Conselho de Segurança das Nações Unidas são “os países vitoriosos” da era do pós-guerra.

Pedida reforma “ampla” da ONU

Henrique Cardoso explicou que, quando fala de uma reformulação do Conselho de Segurança, não quer dizer que é o Brasil que deve ganhar um assento permanente na instituição, algo que há muito vem sendo discutido, particularmente dado o crescimento económico do país sul-americano, uma das quatro maiores economias emergentes, a par da Rússia, Índia e China (os denominados BRIC).

“Não me refiro ao Brasil no Conselho de Segurança, isso é ilusório”, afirmou, acrescentando que, enquanto presidente, não fez pressão para que isso acontecesse, pelo menos “neste Conselho”. Fernando Henrique Cardoso explicou que o que deve ser almejado é uma “reforma mais ampla” das Nações Unidas, incluindo do Conselho de Segurança.

O ex-governante brasileiro mencionou, por várias vezes, o poderio crescente da China e a sua consequente influência no panorama mundial, particularmente em África. “Vamos deixar que a China faça em África o que certos países europeus fizeram?”, questionou.

“Onde pára a Europa?”

Henrique Cardoso referiu, ainda, três questões que considera serem das mais importantes para o futuro da política mundial. Em primeiro lugar, a necessidade de encarar a Rússia como um actor fundamental do panorama mundial e, acima de tudo, distintamente da União Soviética.

Por outro lado, o antigo presidente do Brasil colocou a questão “onde pára a Europa?”, referindo-se à Turquia, chamando a atenção dos fluxos migratórios que têm tido como destino os países da União Europeia. Por último, Fernando Henrique Cardoso considerou que “a questão islâmica ainda está por resolver”.