Novas doenças, bioterrorismo, a sustentabilidade da saúde na sociedade actual, questões éticas, globalização e aquecimento global foram alguns dos principais pontos que António Ferreira, presidente do Conselho de Administração do Hospital de S. João, acredita virem a ser “os grandes desafios da medicina no século XXI”. Este foi, aliás, o tema da conferência que abriu o XIV Curso Pós-Graduado de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, a decorrer no Tiara Park Atlantic Porto de 10 a 12 de Abril.

Para António Ferreira, doenças que já martirizaram a humanidade no passado podem vir a renascer num futuro próximo, ligadas a questões sociais e económicas. “Com as alterações climatéricas, pode surgir uma epidemia de malária na Europa, por exemplo. E com a globalização, uma epidemia de gripe das aves na Ásia está a dez horas de ser uma epidemia europeia”, alerta.

Doenças para as quais não há medicamentos, porque a maior parte destes são produzidos pela indústria farmacêutica, que se move por “interesses empresariais, em busca do lucro”, apesar de ter “promovido grandes desenvolvimentos na medicina”, afirmou António Ferreira. “A linha de investigação visa responder às doenças dos países industrializados”, apesar de as mais letais, tuberculose e malária, se encontrarem em países em desenvolvimento.

Investimento na investigação deveria ser apontado para áreas “esquecidas”

A investigação científica fora da indústria farmacêutica “tem muita importância”, mas “nenhuma faculdade ou hospital” tem “capacidade económica” para sustentar, sozinhos, a produção de um novo medicamento, cujo custo tem um valor a rondar os “500 milhões de euros”, explicou o presidente do Conselho Directivo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), Agostinho Marques, que presidiu à conferência.

“Para haver sustentabilidade é preciso produzir riqueza”, dizia António Ferreira, que, mais tarde, afirmou ao JPN que “o investimento público para a investigação deveria dirigir-se às áreas” das doenças “esquecidas” pela indústria farmacêutica.

Por seu lado, Agostinho Marques indica que “as preocupações com os custos da medicina já fazem parte das preocupações do médico, o que antes não acontecia”.