O presidente da Bial, Luís Portela, considerou, num debate sobre o Porto, que “é essencial tornar o Norte mais rico” e é da opinião que a câmara da cidade “apostou pouco na cultura”.

O presidente da Associação Comercial do Porto, Rui Moreira, concordou, referindo que “o Porto erra quando quer ser capital de alguma coisa”. Se isso acontecer, “vai continuar a obter derrotas como até agora”. “Deixemos Lisboa ser tudo, deixemos Lisboa estar virada para Sul, já que Lisboa é uma cidade europeia”, rematou Rui Moreira.

A crítica estendeu-se ao Estado e à forma como este divide a riqueza, já que na sua opinião “a divisão não beneficia o Norte e faz com que não possa crescer”.

“Já dizia José Maria Pedroto, do Futebol Clube do Porto, que para invertermos isto temos de ser melhores que os clubes de Lisboa, muito melhores. [O clube] Só começou a ganhar quando assim aconteceu”, reforçou Luís Portela.

“Funil que desagua em Lisboa”

Rui Moreira recordou a regionalização e reiterou que actualmente voltaria atrás na sua decisão e votaria a favor. No referendo de 1998 votou contra porque pensou que “isso iria contra a coesão de Portugal e que o mapa dividia mal as regiões”, acrescentando ainda que as “cidades da periferia do Porto não queriam que este passasse a ser capital também”. No entanto, actualmente tem receio que os portugueses caiam no “funil que desagua em Lisboa”.

O debate sobre o tema “Porto: uma escol(h)a de vida”, inserido no ciclo “Porto, entre a Razão e o Sentir”, decorreu quinta-feira na Junta de Freguesia de Paranhos e juntou Rui Moreira, Luís Portela e Andrew Bennett (coordenador da Orquestra Nacional do Porto) para discutirem vários temas relacionados com a cidade do Porto.

Quanto o tema passou a ser a cultura, Andrew Bennet falou da sua experiência em Portugal e referiu que foi a cidade do Porto que o escolheu e não o contrário e que “o Porto está a desenvolver algo na música que tem a ver com ambição e que por isso os portuenses conseguem conceber espectáculos fantásticos devido à sua criatividade”.

“O Porto precisa de liderança”

A última questão para terminar o debate centrou-se nas perspectivas de futuro de cada convidado para o Porto, daqui a 15 anos (em 2023). Andrew Bennet, coordenador da Orquestra Nacional do Porto, disse que existem características do Porto subaproveitadas que têm de mudar. Luís Portela pediu mais liderança para a cidade.

Rui Moreira salientou que a cidade está melhor desde a Porto 2001, mas que agora tem de criar uma política cultural. “O poder político é o poder mais adaptável do mundo porque nos vende esperanças. Daí que quando acontecer uma reviravolta no Porto com a crescente evolução política, nós vamos ser capazes de mudar”, disse.

“Lamento que também as rádios tenham perdido o seu cariz regional e que os jornais não se direccionem ao Porto – “O Comércio do Porto” desapareceu, o “Jornal de Notícias” quis afirmar-se nacionalmente e o “Público” e o “Primeiro de Janeiro” perderam a importância que tinham na cidade. Não temos, nem teremos uma televisão como tem a Galiza, e tornamo-nos nos compadres alentejanos de que ninguém fala”, constatou o presidente da Associação Comercial do porto.