Portugal é um dos países da Europa onde há menos interesse pela política e maior desconfiança em relação aos governos e partidos. A conclusão é de Pedro Magalhães, investigador do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas e responsável por um estudo apresentado esta quinta-feira na Universidade Lusófona, no Porto, sobre a “Cultura Política na Europa do Sul”.

O estudo visa descobrir se existe um padrão em Portugal, Espanha, Itália e Grécia, no que respeita à cultura política, isto é, as atitudes e crenças que cada indivíduo tem em relação à vida política. Os dados demonstram semelhanças, mas desmente uma cultura política comum.

O legado comum de uma longínqua época feudal, do corporativismo, do peso do catolicismo e um passado recente repleto de regimes autoritários que atravessaram os quatro países em análise levou a profundas raízes históricas indissociáveis à região da Europa do Sul. Pedro Magalhães detectou “fatalismo, elitismo, tradicionalismo, que levou a um menor envolvimento político devido à hierarquização social”.

Características comuns, culturas políticas diferentes

A partilha actual da democracia e destas características intrínsecas são indício de uma padronização de comportamentos políticos que vão sendo desfeitos à medida que se descobre que não há uma tendência “mediterrânica”, mas sim alguns pontos em comum.

Os países do sul da Europa têm um grau de aceitação da democracia elevado, mas, segundo Pedro Magalhães, trata-se de um “apoio difuso, condicionado pelos posicionamentos ideológicos e pelos desempenhos económicos”.

O investigador concluiu, no entanto, que a rejeição dos regimes autoritários diminui nos países que por lá passaram. Por isso, neste índice, Portugal e Espanha são os territórios onde mais pessoas aceitariam um regime não democrático.

Portugueses desconfiam e estão insatisfeitos

Pedro Magalhães abordou ainda o “síndrome de insatisfação” de que padece a Europa do Sul, com altos níveis de desconfiança e baixos níveis de participação política. Aqui, Portugal é líder. Com uma taxa de participação eleitoral de 63%, os portugueses demonstram uma baixa confiança interpessoal que, a nível individual, se baseia na avaliação que cada um faz da democracia.

Os mais jovens, as mulheres e, principalmente, os menos instruídos são aqueles que mais contribuem para este padrão de desinteresse pela política.

“A excepcionalidade sul europeia subitamente desaparece quando alargamos os nossos padrões”, explicou o orador na apresentação da sua análise. Isto porque nem sempre as particularidades próprias de uma região retiram a sua heterogeneidade interna, levando a uma cultura política distinta de país para país.