Rua de Conde São Salvador, Drogaria Económica. Quem entra no estabelecimento, a funcionar no rés-do-chão, dificilmente adivinha as preciosidades guardadas no primeiro andar deste edifício, a dois passos da lota de Matosinhos. Quem decide avançar e aventurar-se, mergulha num verdadeiro mar de histórias sobre o clube do coração do dono da drogaria, Tó Manel. O Leixões Sport Clube.

“Isto é uma colecção. Chamo-lhe museu porque é grande e tem aspecto de museu”, começa por esclarecer o orgulhoso proprietário, António Manuel, de 40 anos, mas carinhosamente tratado por Tó Manel. Num primeiro olhar pelo espaço, o que fica é o imenso mar vermelho que salpica das bandeiras, cachecóis, camisolas e outros objectos alusivos ao clube de Matosinhos.

“Comecei a coleccionar aos seis anos. A primeira peça, uma medalha do Leixões, foi a minha mãe que me deu”, conta Tó Manel ao mesmo tempo que retira cuidadosamente o artefacto do seu lugar para o exibir. Outras peças há, no entanto, que fazem brilhar os olhos deste indefectível sócio leixonense. “Tenho aqui um quadro bordado por um invisual. Tem muito valor para mim”, explica com o indicador apontado à obra.

Do espólio, destacam-se preciosidades como um equipamento completo de 1935 ou a camisola envergada por “Gomes” no jogo que levou o Leixões à final da Taça de Portugal em 1961, que acabaria por vencer diante do FC Porto por 2-0. Mas a colecção não fica por aqui. “Tenho um emblema todo feito em ferro de 1919 e que andava na chaminé de um barco, o Santa Isabel. Tenho também os primeiros estatutos do clube, de 1907″, conta Tó Manel.

Num espaço decorado a vermelho e branco, nem a antiga relva do Estádio do Mar, plantada em 1964 e retirada em 2002, falta no museu de Tó Manel. À medida que se observam os milhares de pequenas e grandes recordações, o carismático adepto do clube da Cruz de Pau lá vai confessando que a sua ideia “nunca foi construir um museu”. “Fui acrescentando ao longo dos anos. As pessoas iam-me dando e eu fui guardando”, explica.

Isqueiros, louças, recortes de jornais, canetas, livros, relógios e muitos, muitos mais objectos preenchem o restante espaço do museu particular. Para o fim da visita, a pergunta inevitável: “o que é para si o Leixões?”. A resposta, sincera e emotiva. “Foi um dom que Deus me deu. Ser do Leixões é como ter uma família. É das coisas mais importantes que tenho na vida”.