Ao terceiro dia de confrontos na capital libanesa contavam-se 11 mortos e mais de 20 feridos, indicaram membros das forças de segurança libanesas à Associated Press. Beirute tem sido, desde quarta-feira, palco de lutas entre apoiantes do governo e as forças do Hezbollah e de outros grupos da oposição. Relatos a partir da cidade que já foi chamada a “Paris do Médio Oriente” apontavam para que toda a Beirute Ocidental tivesse agora sob domínio do movimento xiita e dos seus apoiantes.

Na origem destes eventos esteve a decisão do governo libanês de declarar ilegal a rede de telecomunicações do Hezbollah, considerada pelo executivo como um “ataque à soberania do Estado”, esclarecem as Nações Unidas. Outro dos motivos que estará por trás dos acontecimentos desta semana terá sido a decisão governamental de afastar o general Wafiq Shoucair do seu posto enquanto responsável pela segurança do aeroporto internacional de Beirute, por não ter impedido o Hezbollah de instalar um sistema de videovigilância próprio na estrutura.

O “Partido de Deus” anunciou, então, uma greve para a passada quarta-feira, dando início à escalada da situação. Em conferência de imprensa, citada pelo diário libanês de língua inglesa “The Daily Star”, o secretário-geral do Hezbollah, Hassan Nasrallah, afirmou que “a decisão do governo é equiparável a uma declaração de guerra”. “Isto assinala o princípio de uma guerra em nome dos EUA e de Israel”, acrescentou.

Encarando a rede de telecomunicações do seu grupo como uma “parte significativa da resistência [contra Israel]”, Nasrallah afirmou que o Hezbollah tem “o direito de confrontar quem começar uma guerra” contra o movimento.

Maiores desafios desde a guerra civil

O enviado especial do secretário-geral das Nações Unidas para a implementação da resolução 1559 [em PDF] (que apela ao desarmamento de todas as milícias do país e pede que haja eleições presidenciais dentro “das regras constitucionais”), Terje Roed-Larsen, afirmou, esta quinta-feira, numa reunião do Conselho de Segurança da ONU que “os motins [que começaram na quarta-feira] demonstraram, tragicamente, que o Líbano enfrenta hoje desafios de uma magnitude nunca vista desde o fim da guerra civil”.

O Líbano, que viveu um longo período de guerra civil entre 1975 e 1990, é dos países mais instáveis de uma região por si só volátil. No centro de várias esferas de influência – desde o Irão e a Síria aos EUA e à França -, dividido entre múltiplas etnias e religiões, o pequeno país do Médio Oriente foi o cenário de uma guerra entre o Hezbollah e Israel durante o Verão de 2006, que causou estragos na ordem dos 2,5 mil milhões de dólares.

“Terra torturada e vulnerável”

“O factor desconhecido” da situação actual, refere o editorial do “The Daily Star”, “é apenas quanto mais sofrimento, morte e mediocridade política terá o Líbano de enfrentar, antes que os políticos cheguem, de facto, a compromissos”. “O Líbano é uma terra torturada e vulnerável com líderes medíocres no que toca a consenso e governação estável e sensível”.