O Kosovo declarou a sua independência a 17 de Fevereiro e desde então o principal foco de tensão é o Norte do país, habitado, maioritariamente, por sérvios. A ex-província da Sérvia está sob administração internacional desde o fim da guerra do Kosovo, em 1999. O mais recente Estado mundial vai ser um dos factores decisivos nas eleições do próximo domingo na Sérvia.

Milan Rados, professor de Relações Internacionais da Universidade do Porto, afirma que “separar um território do seu país é contra a lei”. Teresa Cierco, especialista nos Balcãs e professora na Universidade Lusíada, explica que a Carta das Nações Unidas admite “tanto a auto-determinação dos povos, como a integridade territorial”.

A independência do Kosovo já foi reconhecida por mais de 30 estados. Contudo, países como a Rússia, China, Brasil, Espanha, Grécia, Roménia, Chipre, Eslováquia, Geórgia, Moldova, e o Sri Lanka ainda não o reconheceram como um Estado independente, por temerem que se crie um precedente para outras regiões independentistas. A Sérvia chamou de imediato os embaixadores de todas as nações que reconheceram a independência do Kosovo.

Lusko Lopandic, embaixador da Sérvia em Portugal, afirmou ao JPN que “em Setembro vão ser tomados mais alguns passos para proteger os interesses da Sérvia”. O diplomata disse que o seu país vai pedir “à Assembleia Geral das Nações Unidas para, juntamente com o Tribunal de Justiça Internacional, ajudar na questão da legalidade da independência do Kosovo”.

Governo português “não prima pela iniciativa”

Portugal ainda não revelou se vai reconhecer o Kosovo como país independente. A 10 de Março, em Bruxelas, o ministro português dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, reafirmou que Portugal tem “uma posição bem definida” sobre o reconhecimento da independência do Kosovo, mas apenas se pronunciará “quando entender ser adequado”. Na opinião de Teresa Cierco, o Governo português ainda não reconheceu o Kosovo porque “não prima pela iniciativa”.

A Rússia é uma incondicional aliada da Sérvia. O presidente russo, Dmitry Medvedev, afirmou a 27 de Fevereiro, durante um comício eleitoral em Nizhny Novgorod, que a independência do Kosovo pode fazer a Europa “pegar fogo”.

Após uma falta de entendimento entre o Partido Democrático da Sérvia e o Partido Democrático, o presidente pró-europeu Boris Tadic dissolveu, no dia 13 de Março, o parlamento e convocou para 11 de Maio eleições parlamentares antecipadas na Sérvia, três dias depois de Vojislav Kostunica ter admitido que não conseguia conduzir e estabelecer a política do país de uma maneira “única e comum”. As legislativas coincidem com as eleições municipais.

Dusko Lopandic revelou ao JPN que “a população está confusa, existe um grande movimento de apoio à integração na União Europeia, mas muitas das pessoas estão furiosas porque muitos países da União Europeia reconheceram o Kosovo”. O embaixador sérvio afirmou que “há problemas sociais na Sérvia, existe muita gente desempregada, muita pobreza, as pessoas estão marginalizadas e tendem a votar na oposição”.