Em 2007, o número de mortes ultrapassou, pela primeira vez desde que há registo, em Portugal, o de nascimentos, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), cujas primeiras séries cronológicas remontam a 1900.

No ano passado, registaram-se 102.213 nados-vivos contra 103.727 óbitos, sendo o culminar de uma tendência de declínio de crescimento que se faz sentir “desde há 26 anos para cá”, afirmou ao JPN, Ana Cid Gonçalves, secretária-geral da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas (APFN).

Facto sustentado no estudo “Estudos Demográficos 2006” apresentado pelo INE. Segundo os dados disponíveis, em 2006, o índice de fecundidade era de 1,36 crianças por mulher, verificando-se, ao mesmo tempo, um aumento da longevidade que contribui para um envelhecimento ao nível do topo da pirâmide. Em 2006, o índice de envelhecimento atingiu 112 idosos por cada 100 jovens.

“Isto vai ter consequências muito graves, como o desemprego dos professores e a falência dos sistemas de segurança social. É o total abalo da sustentabilidade económica e social do país”, disse Ana Cid Gonçalves

“O inverter da pirâmide faz com a população activa, aquela que trabalha e tem que manter a sociedade, seja muito mais baixa do que aquilo que é necessário e suficiente para manter os níveis de protecção e segurança social a que nós estávamos habituados. Para além disso, há uma estagnação económica muito grande”.

Para a secretária-geral da APFN, existem dois grandes factores que levam as pessoas a terem cada vez menos filhos: “É o factor cultural, as pessoas são menos incentivadas a terem filhos, até nos próprios centros de saúde, cada grávida não é acolhida, não é acarinhada como devia ser, parece que aquela criança não vai ser tão importante para o país quanto ela é. Depois, ao nível do Estado, não há protecção, há uma penalização brutal sobre as famílias. Ir ao segundo e ao terceiro filho para a maior parte das famílias é inviável”.

Portugal insere-se, assim, no “marasmo demográfico” que se tem patenteado na Europa: “Este é um país velho que está a envelhecer muito rapidamente. O cenário que nós enfrentamos é um cenário de três ou quatro idosos para uma criança jovem. Isto diz tudo, não é?”.