O presidente da Águas do Porto, Poças Martins, tem como uma das suas metas “devolver a beleza das ribeiras à população”. O presidente da empresa municipal admite que “ainda há trabalho a fazer” e que poderá haver um concurso de ideias para a reabilitação dos cursos de água do Porto.

Durante anos, a inclusão das ribeiras no tecido urbano foi ignorada, procedendo-se a um progressivo entubamento da maioria das linhas de água. A Câmara Municipal do Porto, através da Águas do Porto, só recentemente começou um projecto para reabilitar as ribeiras do concelho. Porquê agora?

As ribeiras são um factor de complicação na construção. A maneira mais fácil é metê-las num tubo e fingir que elas não existem. Quando tapamos as ribeiras acontecem situações, como as de Lisboa, em que há inundações e morrem pessoas. A razão de fundo para este projecto é que as cidades ganham em tratar das ribeiras. É mais bonito ter uma casa virada para uma ribeira a “cantarolar” limpinha.

O mote é “despoluir, desentubar e reabilitar”. Até agora o que já foi feito?

Em alguns casos já conseguimos reduzir a poluição dez vezes. É o caso da ribeira de Cartes e da Asprela. A vantagem é que foi feito sem gastar dinheiro. Até 2009, vamos conseguir eliminar a poluição nas ribeiras, vamos desentubar onde for possível e vamos reabilitar para, no fundo, devolver a beleza das ribeiras à população. Também entre este e o próximo ano todas as ruas vão ter saneamento. Sabemos o que falta a fazer, temos projectos para o que falta fazer, temos dinheiro e já lançámos as obras. Ainda há trabalho a fazer.

Disse que esse processo tinha sido feito quase sem gastar dinheiro…

No fundo, o que acontece muitas vezes é que há esgotos que estão indevidamente ligados a ribeiras. Hoje em dia, temos um sistema de tratamento para os esgotos, por isso, não faz sentido que os esgotos continuem ligados a águas pluviais.

Muitos moradores fizeram isso de boa fé. Muita gente não sabe a diferença entre águas pluviais e canos de esgoto. Tivemos de explicar às pessoas que se não lançassem os esgotos de sua casa no saneamento, o rio Douro ficava poluído, as praias sofriam e as próprias ribeiras ficavam descaracterizadas.

A ligação das habitações ao saneamento está a ser custeada pela Águas do Porto?

Não. O único dinheiro que a empresa tem é o dinheiro que os clientes lhe dão. Nós não podemos pôr quem cumpriu a pagar. Quem não cumpriu é que tem de pagar. Quem polui paga, é o princípio do poluidor-pagador.

“Vamos devolver a beleza das ribeiras à população”

Agora, temos uma capacidade negocial muito boa, temos preços muito favoráveis. Por isso, estamos a transferir para as pessoas a oportunidade de fazer as obras com os nossos preços. Mas temos de ser muito firmes. Em nome de nada se pode permitir que se polua, não faz sentido.

Enquanto presidente da Águas de Gaia procedeu também à ligação das casas ao saneamento, à reabilitação das ribeiras do concelho e à despoluição das praias. Gaia é um exemplo?

A situação em Gaia era muito pior do que a situação em que o Porto está hoje. Em 1997, não havia nenhuma estação de tratamento. Gaia tem cerca de 120 mil casas e nessa altura apenas dez mil estavam ligadas ao saneamento. Foi um esforço de mais de 100 milhões de euros. Fizeram-se colectores, ETARs, despoluíram-se dezenas de quilómetros de água e houve uma mudança cultural. As pessoas passaram a passear junto às ribeiras ou às praias durante todo o ano.

É um pouco isso que estamos à espera que aconteça no Porto. Há dois anos, em 2006, as pessoas chegavam às praias do Porto e viam sinais de proibido. Parecia que estávamos perto de um caldeirão explosivo. O problema das praias do Porto era que muitas casas não estavam ligadas ao saneamento e então descarregavam, directamente, para a praia ou para linhas de água que iam dar à praia. A primeira coisa a fazer foi pôr essas ligações direitas.

Em Junho mencionou que, apesar de as ribeiras da Foz, Nevogilde e Aldoar serem prioridade, os casos mais graves eram a Asprela e a Granja. Até agora qual é o balanço da intervenção nestas dois casos?

A ribeira da Asprela está hoje dez vezes melhor do que estava em Junho de 2007. No caso da ribeira da Granja, as mudanças ainda não são sensíveis porque a poluição vem de outro concelho (Matosinhos) e também há muitos prédios que ainda não estão ligados ao saneamento.

No entanto, neste momento e até Junho (começo da época balnear) estamos a dar uma prioridade maior às praias, principalmente, no que diz respeito àquelas casas que lançam esgotos para as praias.

O que vai ser feito, concretamente, para reabilitar estes trajectos?

Há dois percursos pedonais que ambicionamos fazer. Na zona da Asprela vamos ver se conseguimos ligar as várias faculdades e estações de metro por percursos pedonais. Depois, na zona da ribeira da Granja também queremos fazer percursos pedonais em dois sítios: da Boavista até à Foz e outro na zona de Ramalde do Meio e Prelada. Aqui vamos desentubar.

Recentemente houve um concurso de ideias para os reservatórios do Porto. As reabilitação das ribeiras vai seguir o mesmo caminho?

Tivemos uma excelente resposta a esse concurso. Recebemos quase 200 propostas de mais de 20 países. Vamos agora avaliá-las. No fundo é a ideia da Wikipédia: dizemos que temos um problema e há imensa gente com tempo livre e com vontade de ajudar. Hoje a Internet permite isso. Quanto às ribeiras vamos fazer algo do género. Há interesses da Faculdade de Arquitectura e de outras faculdades. Vamos abrir o problema e vamos fazer uma discussão sobre água na cidade.