O Bloco de Esquerda denuncia que, este ano, o Banco Alimentar recebeu menos cem mil toneladas de excedentes da União Europeia (UE) do que em 2007, tendo-se registado uma redução da distribuição do leite e uma eliminação do excedente de carne.

Em conferência de imprensa, no Porto, o sociólogo e deputado João Teixeira Lopes denunciou que os excedentes da UE atribuídos ao Banco Alimentar “são menores”, o que prova que “o ministro [da Agricultura] mente” ao dizer que “a rede institucional é capaz de dar resposta” às situações de fome.

João Teixeira Lopes acredita que cabe ao Governo solucionar a situação, através de uma campanha nacional de distribuição de cabazes alimentares. Face aos resultados do “Livro Negro sobre a Pobreza no Porto” [PDF] e às conclusões das campanhas do Banco Alimentar, se o Estado não organizar esta campanha, estará a “remeter a responsabilidade social para instituições que já não conseguem dar resposta.”

João Teixeira Lopes recorda os números, que considera que só “percam por defeito” e que não são um “exagero”. Segundo o Livro Negro sobre a Pobreza no Porto, existem 100 mil pessoas com fome no Porto e cerca de 400 mil no país, sendo que o distrito é, a par do Alentejo, Açores e alguns concelhos da Madeira, uma das áreas mais prejudicadas.

Resultados do Banco Alimentar contra a Fome

Instituições mediadoras:
– 415, em 2006
– 461, em 2007
Pessoas apoiadas:
– 84 mil pessoas, em 2005
– 70 mil pessoas, em 2007
Instituições em fila de espera no Porto (para receber ganhos do Banco Alimentar)
– 100 em Novembro de 2007
– 180 em Maio de 2008

Relativamente aos resultados do Banco Alimentar contra a Fome (ver caixa), o deputado salienta que o facto de haver menos pessoas apoiadas, não implica um decréscimo da fome, pois aumentaram as instituições que recorrem ao Banco Alimentar. “Há pessoas, outrora da classe média, que enviam e-mails a pedir ajuda ao Banco Alimentar. Não são só formas clássicas de pobreza”, salienta o sociólogo.

Governo pratica “crueldade social”

João Teixeira Lopes considera que o Governo exerce uma forma de “crueldade social”. “O Governo não se envolve nesta matérias, as instituições é que têm de tratar. Nem um Estado ultra-liberal fugiria desta responsabilidade social”, refere o deputado.

A semana passada, o ministro da Agricultura, Jaime Silva, revelou a existência de um programa de ajuda alimentar financiado pela UE, em que as organizações poderiam aceder aos alimentos de forma gratuita, através de um concurso, que depois seriam distribuídos pelas instituições.

O deputado considera que os programas, que entraram em concurso este mês, “não chegam para Portugal” e que se deveria antes rever a situação do programa de biocombustíveis, que diminuiu a percentagem de terras aráveis.

“Santana não tem legitimidade para falar de fome”

Teixeira Lopes quer distanciar-se “em absoluto” da abordagem que o candidato à presidência do PSD Pedro Santana Lopes fez às situações de fome vividas no país. Num comício de campanha em Monte Gordo, no sábado, Santana acusou o primeiro-ministro José Sócrates de não ter consciência social no que toca às situações de fome do país.

João Teixeira Lopes recorda declarações do ministro Bagão Félix, durante o mandato de Santana Lopes como primeiro-ministro. “Se há 200 mil pessoas que têm fome, nós não sabemos onde elas estão, senão dar-lhes-íamos de comer”, referiu o então ministro das Finanças e da Segurança Social, a propósito de um estudo que concluía 200 mil pessoas com fome em Portugal. Por isso, para Teixeira Lopes, “Santana não tem legitimidade para falar de fome”.