A violência no âmbito escolar tem vindo a ser noticiada a partir de casos particulares, como o vídeo lançado no Youtube por um aluno da escola Carolina Micaelis. A generalização que resulta da chegada dos casos à comunicação social preocupa os especialistas da área.

Ana Vasconcelos, pedopsiquiatra, defende que imagens de violência não deviam passar na comunicação social. “O que deve passar na televisão e restantes órgãos de comunicação social é, por exemplo, como deve um pai fazer quando o filho quer levar o telemóvel para escola, mas tal não é permitido”, explica.

A separação das situações de bullying do contexto de ocorrência é um dos factores preponderantes para uma discussão negativa dos casos. Ana Vasconcelos defende não ser correcto tratar as situações como problemas humanos.

“Casos pontuais que têm características muito próprias, o que não quer dizer que elas também não estejam na ponta do icebergue onde há muitas outras situações aparentemente idênticas”, adianta.

João Martins, psicólogo, identifica um ponto positivo na mediatização do bullying, apesar de salientar que o problema reside na forma como são abordados os casos. “O trazer a discussão para a opinião pública vem alertar a sociedade para a existência de bullying nos escolas. Agora não se pode é descaracterizar as situações”, explica.

Bullying não é sinónimo de delinquência e de indisciplina

Por seu lado, a socióloga Maria João Leote vê com total desconfiança a abordagem do assunto nos meios de comunicação social. “A mediatização negativa que tem vindo a ser feita não contribui em anda para a solução de um problema que é real e que deve ser tratado como tal”, diz.

Com a divulgação mediática de casos de violência nas escolas, o uso do termo bullying generalizou-se. Maria João Leote aponta três características essenciais para que se possa falar desta questão. “No acto de agressão tem de existir relação de poder entre agressor e vitima, os actos têm de ser intencionais e verificar-se continuidade no tempo. Um acto isolado não é bullying”, explicou.

Maria João Leote receia efeitos adversos do uso de conceitos como o de delinquência e indisciplina como sinónimos de bullying. “Os termos podem ser sobrepostos, mas não são o mesmo, pois partem de contextos e pontos diferenciados. Os quadros sociais e até jurídicos são diferentes”.

“O bullying nas escolas tem novos contornos de visibilidade, disseminação e efeitos, mas sempre existiu. Os contornos sociais, as relações humanas e o próprio contexto organizacional das escolas é que se alteraram”, acrescenta.

Ana Vasconcelos destaca que o bullying não representa apenas actos em meio escolar. “Os meios de comunicação social e boa parte da sociedade tendem a relacionar o termo com a violência entre os miúdos, mas são actos que também se encontram, por exemplo, nos animais”, frisou.

“Na situação da transsexual do Porto, havia um testemunho que dizia ser o medo do pai o motivo de não contar nada. Um miúdo que tem culpa é um miúdo que, apesar de tudo, percebe que errou. Não podia ser tratado como os outros que, eventualmente, usaram a violência para soltar os fantasmas que tinham na cabeça, pois já tinham sido maltratados”, diferencia Ana Vasconcelos.