Uma série de armários com um suave aroma a mofo e naftalina têm hora marcada para abrir as suas portas e deixar o público conhecer as suas histórias. Na manhã de sábado, foram muitos os curiosos que foram surpreendidos pela presença dos móveis, que escondiam perucas, fatos e anúncios, à frente de Casa de Serralves.

Serralves em Festa em imagens

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À hora marcada, começava, então, o teatro de rua Coisas do Armário, perante o espanto de uma criança ao verificar que a actriz escolhera a mudez como forma de expressão. “Ela não fala?”, inquiria, enquanto ao seu lado um casal espiava o programa, à procura da próxima paragem.

Uma programação que consiga agradar a crianças, jovens e adultos é um dos objectivos de Serralves em Festa, cuja quinta edição decorreu este sábado e domingo. Um propósito que, para o director do museu, João Fernandes, totalmente conseguido, com mais de 80 mil pessoas a visitar a fundação. “Contribuir para aproximar a arte contemporânea do público e para valorizar, não só Serralves, mas a cidade” são outros lemas que o director do museu salientou ao JPN.

“De todas as idades e de todas as classes sociais”. É assim que Fernanda Silva, de 56 anos, descreve o ambiente de Serralves em Festa. Acompanhada pelo neto e pela filha, veio pela segunda vez ao evento, e só vê um defeito: “não dá jeito para trazer carrinhos de bebé”.

Uma festa familiar que ainda apanha alguns de surpresa, como é o caso de Maria do Amparo Araújo, Rosa Silva e Hermínia Prata. As três amigas, na casa dos 70 anos, desconheciam o porquê de tanta gente circular pelos jardins de Serralves. No entanto, pouco depois de assistirem ao concerto de música experimental do percussionista Gustavo Costa, já diziam “Isto devia ser todos os domingos”.

Música, novo circo e futebol com Gabriel Alves

O jogo de Portugal contra a Turquia também encontrou lugar em Serralves e constituiu uma das actividades com mais público. Espalhada pelo prado e trajada a rigor, de verde e vermelho, a audiência assistiu ao jogo num ecrã gigante, com improvisações do grupo de músicos Space Ensemble “ao ritmo” do jogo e com relato de Gabriel Alves. “Uma forma de conciliar duas artes”, como afirmou o comentador no início do jogo.

Ao princípio das duas noites, a melancolia da Clareira das Azinheiras acolheu o espectáculo de novo circo “Questions de Directions”, uma reflexão sobre a ruptura mascarada por danças acrobáticas num mastro chinês e saltos mortais num trampolim. “Foi a perfeita união entre as diversas artes circenses”, considera Sofia Fernandes, uma das espectadoras. “Não teve a perspectiva de criar algo espectacular mas sim de oferecer uma hora de momentos cómicos, sem recorrer aos convencionais palhaços de nariz vermelho”, salienta a estudante de 22 anos.

A música foi um dos maiores destaques da programação do Serralves em Festa. Com a chegada dos britânicos Wire, cabeças de cartaz desta edição (“Pink Flag”, de 1977, é considerado um dos álbuns mais importantes da sua década), o punk inaugurou o início da noite no prado. O cenário familiar da tarde deu lugar a um ambiente mais festivaleiro.

De Brooklyn, os Dirty Projectors, um dos nomes mais esperados pelo público, trouxeram, no domingo, o indie-rock a Serralves. No entanto, foi, mais tarde, com os portugueses The Bombazines, que uma multidão de dançarinos improváveis inundou o campo de ténis de Serralves.