Associação prepara providência cautelar

A Associação de Promoção Social da População do Bairro do Aleixo acusa Rui Rio de ceder a “interesses imobiliários” e de mentir aos moradores. “É uma traição. Ele enviou uma carta aos moradores após tomar posse [em 2002] a dizer que não demolia o bairro”, disse ao JPN Rosa Teixeira. A presidente da associação afirmou ainda que será interposta uma providência cautelar para tentar parar o projecto, contra o qual, diz, “muitos moradores estão revoltados”.

Dentro de quatro ou cinco anos, as torres de habitação do Bairro do Aleixo serão demolidas e a zona será propriedade de um fundo especial de investimento imobiliário (FEII) participado por um parceiro privado e pela Câmara do Porto. Em troca, o investidor privado terá que realojar os cerca de 1300 moradores do bairro em novas habitações sociais e em fogos recuperados dispersos por outros pontos da cidade, como o centro histórico, que serão propriedade da autarquia.

Esta solução para o Bairro do Aleixo, em avançado estado de degradação e um dos centros do tráfico e consumo de droga na cidade, foi apresentada esta quarta-feira pelo presidente da câmara, Rui Rio, em conferência de imprensa.

O FEII terá uma participação privada entre 70 a 90%, com o restante a pertencer à autarquia. O único activo do fundo será precisamente a capacidade construtiva do bairro (24 mil m2 de área bruta de construção para 305 fogos) e espaços devolutos entre o Aleixo e o rio Douro. A câmara estima que a área tenha um valor entre 11 e os 13 milhões de euros.

O vencedor do concurso que a câmara vai lançar terá que construir um número de metros quadrados equivalente ao existente hoje no bairro e 20% dessa área terá que ter correspondência em habitações reabilitadas na Baixa do Porto. Ao privado, a autarquia “garante casas para reabilitar ou terrenos para construir” (4.200 m2 no centro histórico, algumas casas da rua das Musas e outras zonas) a preços de mercado, disse Rui Rio.

Terminado este processo, “as torres serão demolidas e aquela zona será reabilitada”. O presidente da câmara lembrou, porém, que o Plano Director Municipal permite apenas um coeficiente de construção reduzido (0,8).

Reabilitar era deitar dinheiro “à rua”

Assumindo que resolver o problema do Aleixo “não é fácil” e que a solução encontrada pode originar polémica, Rui Rio argumentou que “reabilitar o edificado” seria “investimento deitado à rua” porque o “bairro é muito grande e foi construído em altura”, opção que hoje seria “um erro”. “Os traficantes de droga vão ter menos condições para traficar no Porto”, vincou.

O autarca acrescentou que um investimento de recuperação seria ainda incomportável financeiramente, obrigando a interromper as obras noutros bairros ou a endividar a câmara. Para Rio, desta forma, “resolve-se a chaga social do Aleixo, com reflexos inequívocos na segurança urbana” e “os moradores que vivem em casas velhas vão viver em melhores”. Tudo “sem a câmara gastar dinheiro” e com vantagens para o repovoamento da Baixa e do centro histórico, garantiu.

À espera de polémica

“A intenção era ter uma solução há um ano atrás porque manda a lógica que isto não fosse feito no último terço do mandato, mas só agora conseguimos encontrar a solução. É, evidentemente, uma questão polémica, mas é para se fazer, independentemente da simpatia que o PSD e o PP, com quem estamos coligados, possam perder”, declarou.

Nas contas de Rio, dentro de um ano estará resolvida a parte burocrática. Depois, levará “três a quatro anos” para realojar todas as pessoas. Os moradores do Aleixo “tem tudo à sua frente para melhorar” a sua vida, assegurou, esperando, contudo, resistência dos mesmos.

Rio lembrou que reabilitar quase todos os bairros sociais é a “primeira prioridade” dos seus mandatos e que foram conseguidas soluções para o bairro S. João de Deus, Lagarteiro, Cerco e Aldoar. Depois da intervenção no bairro S. João de Deus, então “o pior”, o do Aleixo tornou-se o mais problemático, disse.

Oposição desconhece projecto

Contactados pelo JPN, a vereadora do PS Palmira Macedo e o da CDU, Rui Sá, disseram desconhecer os contornos do projecto da câmara, que será apresentado à Assembleia Municipal, terça-feira, guardando comentários para mais tarde. “Lamento que Rui Rio prefira o show off mediático [a apresentar as propostas primeiro aos vereadores da oposição]”, disse Rui Sá.