Para o especialista em indústrias criativas Charles Landry, o Porto pode sofrer de um “excesso de identidade”. Landry, que esteve presente na Fundação de Serralves esta quarta-feira para dar uma conferência sobre o tema “Cidades e Regiões Criativas”, reconheceu que a frase não é sua, mas explicou que esse “excesso” pode “fazer com que a identidade se torne em algo mau, quase tribal”.

Segundo este britânico com vários livros publicados sobre a criatividade nas cidades contemporâneas, “é preciso repensar os mitos do Porto”. A questão que Landry lançou no início da sua palestra foi clara: “é-se um local de futebol, um local de património mundial ou algo completamente diferente?”

De acordo com dados apresentados por Landry, actualmente, 64% das pessoas optam primeiro em que cidade viver antes de escolher o emprego, algo que não acontecia há algumas décadas, quando 80% das pessoas davam prioridade ao trabalho em detrimento da cidade onde viviam. Por esta razão, o especialista afirma que o Porto tem de escolher que caminho seguir “na encruzilhada em que se encontra, como todas as outras cidades” e acrescenta: “o TGV pode vir a ser o investimento mais estratégico que podiam fazer”, por colocar a cidade à distância de uma hora de Lisboa.

“Norte do país tem potencial para ser região criativa de classe mundial”

Segundo um dos autores do estudo “Desenvolvimento de um cluster de indústrias criativas na região Norte”, Tom Fleming, o Norte tem “recursos fantásticos, oportunidades de crescimento”, mas também tem universidades que estão a “colocar no mercado pessoas que não estão a abrir negócios” e que estão a procurar trabalho fora do país para nunca mais voltarem.

Contudo, Fleming alerta que “o Porto e o Norte do país têm o potencial para serem uma região criativa de classe mundial para Portugal”. “Temos agora a investigação, temos o material. Está na hora de dar o salto”.

Indústrias criativas representam 2,6% do PIB da União Europeia

À semelhança de vários oradores da sessão de apresentação do estudo sobre o pólo de competitividade das indústrias criativas no Norte, apresentado esta quarta-feira na Fundação de Serralves, Tom Fleming salientou que este sector representa já 2,6% do PIB (Produto Interno Bruto) da União Europeia (UE), enquanto os têxteis ficam-se pelos 0,5% e o sector alimentar pelos 1,9%.

O ministro da Cultura, José Pinto Ribeiro, por seu lado, referiu que, enquanto na UE as indústrias criativas se traduzem em 3,1% do emprego total, em Portugal esse número é ainda 1,4%, apesar de possuir o “dobro” das qualificações da média. “Sem o recentramento da política em torno da cultura não conseguimos mobilizar os recursos para fazermos o que precisamos”, afirmou Pinto Ribeiro, referindo-se à necessidade de uma evolução da “sociedade do saber” para a “sociedade do saber fazer”.