Resolver o problema da discriminação das minorias étnicas deveria ser a obrigação de todos os governos. Quem o diz é Emma Bonino, vice-presidente do Senado italiano e antiga responsável pelo gabinete de ajuda humanitária da Comissão Europeia. No entanto, estabelecer uma relação de confiança com os ciganos, segundo Luís Pascoal, do Gabinete de Apoio às Comunidades Ciganas, “não é uma das coisas mais fáceis, por causa de tudo aquilo que tem sido dito sobre eles”.

Luís Pascoal defende que “antes de tudo é necessário algum tempo de aproximação e coexistência entre ciganos e sociedade em geral”. Depois disso é que se pode avançar com campanhas de sensibilização da população em geral para terminar com a exclusão social e minimizar os seus efeitos. Um percurso que Luís Pascoal garante que “demorará seguramente mais de dez anos a percorrer”.

Já o antropólogo José Pereira Bastos defende ser necessária uma “nova política identitária” antes de se começar a alertar as pessoas para serem vigilantes. Para o professor da Universidade de Lisboa, a questão da exclusão da comunidade cigana podia ser resolvida “em duas ou três gerações futuras”, pois isso permitiria, “manter intacto o orgulho e a cultura cigana e, até mesmo, aumentar o orgulho nacional”.

Caso a discriminação da população Roma não se comece a resolver, José Pereira Bastos teme que este problema possa começar a arrastar-se “indefinidamente por muitas gerações e não haverá trabalho social que o resolva ou, sequer, o reduza de um modo auspicioso”.

União Romani contra o dia 8 de Abril

No momento em que se assinalou o dia internacional dos ciganos, a 8 de Abril, a União Romani Portuguesa (URP) mostrou a sua indignação contra esta data, por considerar que a União Europeia (UE) não se baseou em nenhum critério para definir o dia.

Além de não encontrar motivos para celebrar o dia internacional dos ciganos, “visto que a maioria das comunidades ciganas continuam a viver em condições degradantes”, a URP está contra a data estabelecida pela União Europeia (UE) para celebrar este dia. “É assim, se quem manda é quem pode, ainda que não nos diga nada, uma vez que está estabelecido, temos de aceitar o dia 8 de Abril, embora a URP festeje esse dia a 11 de Junho”, revelou Victor Marques da URP.

Já a 24 de Junho celebra-se o dia nacional dos ciganos, uma data que faz parte do calendário cigano desde 1979, ano em que o engenheiro Nuno Abecassis, ex-presidente da câmara de Lisboa, promoveu a primeira e maior festa cigana. “No auge da festa, no parque Eduardo VII, o próprio engenheiro perguntou o que é que a comunidade achava do dia 24 de Junho. Foi o delírio total e assim ficou o dia 24 de Junho o dia nacional dos ciganos”, recordou Victor Marques.