A educação é um termo que, de quando em quando, volta à discussão pública, para logo desvanecer, até ao ano seguinte, quando o processo se repete. É o remédio indicado para a evolução dos povos, foi a “paixão” de um antigo primeiro-ministro português e é, normalmente, motivo de polémicas quando se fala da sua reforma a nível nacional. Contudo, para além de tudo isto, é também a potencial solução para a degradação social e económica das cidades.

Dois académicos contactados pelo JPN vêem na educação o ponto de partida para a recuperação, a longo prazo, de bairros problemáticos, o que poderia evitar o acender de conflitos como os que por vezes surgem em determinados focos das grandes cidades.

Na sequência da desindustrialização do Porto, ao longo da qual imensas pessoas perderam os empregos fabris que possuíam, vendo-se num vazio laboral, sem qualificações e sem apoio, a escola poderia ter sido a forma de contra-balançar essa perda. “Se os pais têm 50 ou 60 anos e vão perder o emprego, vai-lhes ser muito difícil recuperar o trabalho porque estamos a falar de pessoas com muito poucas qualificações, que dificilmente encaixam no sector dos serviços”, explica Luís Fernandes da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto.

“Porém, se com os pais era difícil e teríamos de lhes valer através das medidas de apoio social, já quanto aos filhos poder-se-ia ter feito muito mais”, refere o académico. “Poder-se-ia ter pensado na tentativa de os manter na escola, uma coisa tão simples como haver salas de apoio ao estudo, projecto comunitários, entre outros”.

Luís Fernandes destaca que, “tanto na infância como na adolescência, poder-se-ia ter feito muita coisa para impedir ou minorar aquilo que veio a verificar-se que é um abandono escolar, um insucesso escolar”. “É a escola ser uma realidade afastada destas crianças e evidentemente que quando a escola é uma realidade afastada o futuro laboral delas está comprometido”, considera o professor. “E daí ingressarem, muitas vezes, em economias como a droga, ou o sub-proletariado que é a mão-de-obra flutuante”.

“No fundo os miúdos destes bairros foram um bocado condenados a isto porque não conseguimos perceber que a escola tinha que lhes valer rapidamente”, sublinha Luís Fernandes.

A habitação social “é um patamar de emancipação”

Virgílio Borges Pereira, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, afirma que deve haver uma forte presença no terreno de equipas que trabalhem, particularmente, duas vertentes: formação profissional e a formação escolar.

“Estamos a falar dos netos e dos filhos dos operários, que hoje não têm indústria. É preciso encarar a resolução destes problemas integradamente. Não basta achar que tudo isto se resolve infraestruturalmente”, refere. “Tem sido lenta a entrada nas instituições de um pensamento mais alargado sobre como enfrentar estes problemas que são muito sérios. Mas demora. Só que, quando se tem uma cidade como esta, estes tipo de questões têm de estar em cima da mesa de qualquer responsável político”.

“A obrigação da Câmara e de todas as pessoas envolvidas no processo em contextos deste género seria criar patamares de entendimento institucional que garantissem a convergência das diferentes instituições do poder local no sentido de produzir politicas direccionadas para estes contextos”, diz Virgílio Borges Pereira. “Não nos podemos contentar com a visão ‘pobre’ da habitação social. A habitação social é um patamar de emancipação, logo, tem de chamar a si essa capacidade de emancipação”.