O Paquistão de Musharraf

Pervez Musharraf chegou ao poder em 1999 através de um golpe de Estado, depondo o então primeiro-ministro Nawaz Sharif, acusado de corrupção. Líder do exército paquistanês na altura, exerceu o poder de forma autoritária, mas, em 2007, após fortes protestos de grupos de advogados contra a prisão do chefe do Supremo Tribunal, começou a perder influência. Com 65 anos, Musharraf preside a um país com armas nucleares (que muitos temem poderem vir a cair nas mãos erradas), que serve de refúgio a vários grupos terroristas e onde os serviços de informação secreta (ISI) possuem uma influência imensa e têm alegadas ligações aos Talibã.

O presidente do Paquistão, Pervez Musharraf, anunciou esta segunda-feira de manhã que ia abandonar o cargo que ocupa há nove anos. A decisão foi tomada na sequência do começo do processo de impugnação de mandato que os partidos no governo encetaram, há dias, acusando o chefe de Estado de ter violado a constituição.

“No interesse da nação, abandono o meu posto hoje. Quero entregar o meu futuro às pessoas e deixá-las serem os juízes e deixá-las fazerem justiça”, afirmou Musharraf. “Saio com a satisfação de que, tudo o que podia ter feito por esta nação, pelo povo, fi-lo com toda a minha honestidade e integridade. Mas eu também sou um ser humano. É possível que tenha cometido erros, mas eu espero que esta nação e o povo saibam que as minhas intenções eram verdadeiras”.

Várias análises indicam que a saída do ex-general pode ter sido decidida em conjunto com alguns parceiros internacionais que procuraram impedir a futura desestabilização do país. “Quer eu vença ou perca a impugnação, a dignidade da nação seria danificada, o gabinete do presidente prejudicado”, disse Musharraf.

Ainda é incerto se o presidente paquistanês ficará no país para lutar contra as acusações que foram feitas contra ele ou se irá viver para outro local. Segundo a revista norte-americana “Newsweek” Musharraf já tem prevista a sua ida para a Arábia Saudita.

Pervez Musharraf tem sido um dos maiores parceiros do presidente George W. Bush na “Guerra contra o Terror”. Contudo, nos últimos meses, o Paquistão tem servido de base para os Talibã e vários outros grupos com ligações à Al-Qaeda, em especial na zona fronteiriça com o Afeganistão.