Transmissão em directo a partir de Coimbra

Em Portugal, o LIP e o Departamento de Física da Universidade de Coimbra vão transmitir em directo a activação do LHC, a partir das 08h até às 12h30, com vários investigadores presentes para responder a questões sobre o projecto.

A Organização Europeia para a Investigação Nuclear (CERN, no original) vai, esta quarta-feira de manhã, ligar o interruptor de um dos mais ambiciosos projectos da História da Humanidade: o Large Hadron Collider (LHC), acelerador de partículas que está a ser desenvolvido há mais de 14 anos, por cientistas de dezenas de países, que já envolveu gastos superiores a cinco mil milhões de euros.

O LHC, que percorre 27 quilómetros, 100 metros sob o solo de França e Suíça, é uma “máquina que acelera dois feixes de partículas em direcções opostas a mais de 99,9% da velocidade da luz”, refere o CERN, o que vai criar um choque de partículas nunca antes visto.

“Amanhã é feito o primeiro teste completo da máquina”, diz ao JPN o presidente do Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP), Gaspar Barreira. O laboratório português é um dos participantes no projecto. O propósito do LHC é repetir, num espaço controlado, os eventos que se seguiram ao Big Bang para que se possa estudar e compreender melhor a origem do Universo.

Buracos negros?

Ao longo dos anos do projecto do LHC, várias vozes críticas têm levantado a possibilidade de se virem a criar buracos negros que porão em risco o Universo. Medos refutados pela CERN. “O LHC vai permitir que estudemos em detalhe o que a Natureza está a fazer em torno de nós”, afirmou, em comunicado, o director, Robert Aymar. “O LHC é seguro e qualquer sugestão de que possa conter riscos é pura ficção”.

“A máquina tem vários objectivos”, explica Gaspar Barreira. “Tem um objectivo imediato que é o da exploração final do chamado Modelo Padrão, que é o que melhor representa o que acontece nos laboratórios em termos de física de partículas e que está praticamente completo”. Contudo, a este modelo de representação falta a identificação de uma partícula, chamada o bosão de Higgs ou a “partícula de Deus”, que, teoricamente, é a geradora de massa dentro deste Modelo Padrão.

“Espero até ao final do ano uma grande descoberta científica ou uma grande descoberta de Física”, diz Gaspar Barreira

“É uma partícula-chave no modelo e não foi observada até agora por uma razão muito simples: nenhuma máquina atingiu as energias necessárias para criar uma partícula com a massa que se prevê que seja a massa do bosão de Higgs”, esclarece Gaspar Barreira. “O LHC é a primeira máquina que vai entrar nesse regime de energia e que vai cobrir largamente a região de energia de Higgs”. Este acelerador de partículas é sete vezes mais potente do que os até aqui existentes e vai permitir aos fragmentos terem sete tera-electrão-volts (TeV).

Teorias da Física em suspenso

A descoberta fundamental deste projecto tem a ver, precisamente, com o bosão de Higgs. Porque, caso o LHC seja posto a funcionar conforme previsto e essa partícula não estiver lá (uma vez que a sua existência ainda não foi provada além da teoria), todo o Modelo Padrão segundo o qual as teorias da Física se regeram até aqui é susceptível de desaparecer, o que significa que teorias como a do Big Bang podem ser contrariadas.

“O Modelo Padrão é de tal modo perfeito que nada aconteceu até hoje nos laboratórios que o contrarie”, explica Gaspar Barreira. “O bosão de Higgs nunca se viu, vai-se observar na experiência do LHC. Se ele não se criar, então temos de dizer que este não é o modelo adequado”.

Um dos participantes no projecto do LHC, Brian Cox, em entrevista à BBC, explicou que caso o bosão de Higgs não seja encontrado “as implicações serão bastante profundas”. “É neste ponto que a nossa melhor teoria da realidade, o Modelo Padrão, se parte”.

Segundo o responsável do LIP, este é um processo “muito demorado” e quarta-feira ainda não estarão activos os dois feixes que vão colidir para criar a reacção que se pretende. Contudo, até ao fim de 2008, esses dois feixes já deverão estar em funcionamento e o LHC atingirá a energia máxima em 2009. “No fim deste ano já se poderá fazer um balanço. A máquina vai ter uma taxa de colisão enormíssima com milhões de acontecimentos por segundo”, diz Gaspar Barreira.

“Espero até ao final do ano uma grande descoberta científica ou uma grande descoberta de Física. Vai ser um arregaçar de mangas para preparar”, afirma o cientista.