O Hospital de S. João (HSJ), no Porto, vai acolher o primeiro Centro de Elevada Diferenciação em Obesidade do país, no que representa um grande “reconhecimento” do trabalho desenvolvido pela equipa da unidade, segundo afirmou esta sexta-feira o secretário de Estado da Saúde Manuel Pizarro durante o seminário “Hospital de S. João e Saúde XXI: Cenário de Futuro”.

O secretário de Estado, ele próprio formado na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e médico do hospital, afirmou ao JPN, à margem do evento, que ainda este mês deverá ser anunciado o centro, que tem como objectivo prestar cuidados a doentes com situações clínicas mais complexas.

O facto de ser o primeiro do país é, segundo Manuel Pizarro, uma forma de reconhecer o esforço do HSJ nesta área. O novo centro vai envolver um “investimento relativamente escasso”, visto que as condições do hospital já são adequadas ao tratamento destes doentes, explicou o governante, acrescentando, aliás, que essa foi uma das razões por trás da escolha do HSJ.

Portugal pode vir a ter excesso de médicos

O director da FMUP, Agostinho Marques, alertou para a possibilidade de, dentro de mais de dez anos, Portugal vir a deparar-se com um excesso de médicos. “Não há uma preocupação a médio e longo prazo e tem sido essa a nossa desgraça”, afirmou, criticando vários governos por não prestarem atenção a este caso. Manuel Pizarro respondeu com uma pergunta: “algum país empobreceu por ter médicos a mais? Não vejo desgraça na formação de mão-de-obra em áreas de altíssimas qualificações. Devemos formar tantos quantos possíveis”.

Os Centros de Elevada Diferenciação no campo da obesidade têm como objectivo ir além da cirurgia, funcionando à mesma como Centros de Tratamento e estando integrados no Programa Nacional de Luta Contra a Obesidade.

Remodelação não será afectada por constrangimentos financeiros

O secretário de Estado da Saúde referiu ainda, em resposta a várias críticas feitas pelo presidente do Conselho de Administração do HSJ, que o Governo está “em condições de assegurar” que o plano de remodelação da estrutura através dos “vários mecanismos financeiros ao seu dispor” e que o hospital não vai sentir nenhum “constrangimento financeiro” no desenvolvimento desse plano.

“Não há nenhuma medicina privada em Portugal que não viva da ineficiência da iniciativa pública”, diz presidente do HSJ

Diversificação financeira

O presidente do HSJ, António Ferreira, lançou várias críticas ao actual sistema de financiamento da saúde em Portugal, particularmente no que diz respeito à concorrência entre o sector público e o privado. “Existe uma necessidade de o hospital se colocar no mercado”, referiu António Ferreira, como parte da “mudança do conceito de hospital”, que tem de passar a integrar “actividades económicas, artísticas, culturais”.

“Tem de haver uma diversificação financeira, para captar financiamento para além daquele extremamente difícil de negociar que vem do Sistema Nacional de Saúde”, declarou o presidente do Conselho de Administração do HSJ. “Não há nenhuma medicina privada em Portugal que não viva da ineficiência da iniciativa pública. E não tenho nenhuma dúvida que não interesse nada ao privado que o HSJ e os outros hospitais públicos sejam eficientes”.

António Ferreira apelou a um maior apoio por parte do Estado e criticou ainda o que considerou ser “inaceitável” que é o facto de os hospitais privados “não gastarem um tostão na formação dos seus quadros”, deixando esse lado ao sector público. “Não há hipótese de haver competição entre público e privado se as coisas continuarem assim”, afirmou Ferreira, que deu como exemplo os concursos que o hospital tem de lançar a nível internacional para o abastecimento anual de papel higiénico e que custa 200 mil euros.