A partir de 29 de Novembro, o Museu de Serralves, no Porto, vai mostrar o resultado final dos projectos de David Infante, Nikolai Nekh e Mariana Silva, os vencedores do prémio BES Revelação 2008. Para já só há linhas de referência, mas as três exposições podem derivar para algo diferente do que foi apresentado ao júri – ou não fosse este um concurso de projectos e não de obras já consumadas.

Na semana passada os três artistas ficaram a saber que tinham sido seleccionados pelo júri, constituído por Bruno Marchand (curador independente que acompanhará todo o processo de preparação da exposição), os curadores Pierre Muylle e Sandra Terdjeman e Ricardo Nicolau, adjunto do director do Museu de Serralves.

Ao JPN, Ricardo Nicolau explica que este prémio é uma “uma espécie de estágio intensivo para artistas que não têm quase nenhuma experiência de expor, muito menos numa instituição”. Esta lógica estende-se ao trabalho do curador, “normalmente jovem e com pouca experiência”.

Cada vencedor recebe uma bolsa de produção de 7.500 euros para desenvolver a exposição, que ficará patente até 8 de Fevereiro do próximo ano.

Das fotografias aos arquivos da RTP

São “três projectos muito diferentes”, mas com conceitos como a “memória, o arquivo e o tempo” em comum, reflecte Ricardo Nicolau.

David Infante, “aparentemente o mais ortodoxo dos fotógrafos”, faz confrontar as suas fotografias, a preto e branco, “com certas bizarrias que vêm desmentir a naturalidade com que tínhamos visto as imagens no primeiro olhar”, diz o membro do júri.

David, residente em Évora, desenvolve: “A certa altura comecei a intervir fisicamente nas fotografias que faço. Comecei a recortar as fotografias que tinha, colava-as e voltava a fotografá-las”.

Já Nikolai Nekh, russo fixado em Portugal, apostou na produção de uma série de postais” de Raduzhnyy. É através deles e de correspondência trocada com o seu pai, que ainda lá vive, que pretende reconstruir a memória desta cidade siberiana, que deixou aos seis anos.

Fora da fotografia (já em 2007 o BES Revelação premiara projectos não estritamente fotográficos), Mariana Silva parte da história recente de Portugal, recorrendo aos arquivos da RTP, mas edita as imagens, que os visitantes poderão ver através de máquinas que permitem visionar película de filme.

“Não é uma proposta de melhoramento de arquivos, mas de um arquivo que será um pouco mais absurdo”, diz a artista lisboeta, interessada em “pensar os filmes e como é que as pessoas se relacionam como objectos documentais”. “É mais uma proposta de reflexão do que uma contraproposta aos modelos institucionais”, refere.