Há condições para um novo regional?

Na opinião da docente, o sentimento de pertença a uma região, conjugado com o cansaço de uma informação “tão geral e amorfa”, pode criar o espaço necessário ao ressurgimento de uma imprensa regional portuense. Mas é necessário repensar a política editorial de um eventual futuro jornal regional, diz: “O Porto está vazio e o centro de interesse das pessoas já não é a Avenida dos Aliados mas sim a periferia”.

Quando, em 2005, “O Comércio do Porto” morreu, Helena Lima, docente do curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto, decidiu investigar por que é que um dos jornais mais importantes da cidade não tinha conseguido vingar, enquanto o “Jornal de Notícias”, outro título histórico de raízes portuenses, se tinha tornado num caso de sucesso nacional.

Com “O Primeiro de Janeiro” a atravessar um momento difícil, a pergunta ganha ainda mais força: os jornais do Porto perderam influência? Helena Lima diz que sim e relaciona este movimento descendente com a perda de importância da cidade no contexto nacional.

“Os Diários Portuenses e os Desafios da Actualidade na Imprensa: Tradição e Rupturas” é o título da tese de doutoramento de Helena Lima, docente no curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto (UP).

A tese, que foi defendida, com sucesso, na Faculdade de Letras da UP este mês, teve dois sentidos: seguir o percurso histórico dos três centenários da cidade (“Comércio”, JN e “Janeiro“), com enfoque no período das nacionalizações do pós-25 de Abril de 1974 (que durou até fins da década de 1980), e perceber se as suas orientações editoriais tinham sofrido alterações que, de alguma forma, levassem à perda do público.

Perda de importância do Porto reflecte-se nos media

“A saída dos centros de decisão económica e política tiraram noticiabilidade ao Porto”, atesta Helena Lima, que afirma que, hoje em dia, a cidade só é manchete com o futebol, Serralves e a Casa da Música, assuntos capazes de despertar o interesse nacional.

“A força dos três jornais estava em serem nacionais com enfoque no Porto”, afirma. Segundo a especialista, tal só se mantém no JN. É o líder de vendas e de popularidade na região Norte, embora, segundo Lima, se tenha tornado mais “incaracterístico e menos comprometido com os aspectos da cidade e da região” do que em tempos passados.

A década de 1980 foi decisiva para definir a importância dos três jornais. Se o “património de referência” d’ “O Primeiro de Janeiro” (que se manteve no sector privado) foi desbaratado nessa década, à medida que as direcções se sucediam, o nacionalizado JN conseguiu conquistar “muito público” e “manter a identidade”, apesar das mudanças na administração.

Já o “Comércio” manteve um conjunto “razoável” de leitores e o seu encerramento deveu-se mais a opções estratégicas da Prensa Ibérica do que à evolução das vendas (que, aliás, estavam a crescer, nota Helena Lima). Com 151 anos de vida, era o segundo mais antigo jornal português, depois do “Açoriano Oriental”.