No arranque do novo ano lectivo, o reitor da Universidade do Porto (UP), José Marques dos Santos, falou do programa que tem desenvolvido para que a instituição seja mais procurada e continue a subir de posição nos rankings de universidades internacionais.

Numa longa entrevista (que o JPN vai publicar em várias partes e que poderá ouvir também na JPR), Marques dos Santos falou, entre outros temas, da implementação de Bolonha, do aumento crescente de jovens licenciados desempregados, da passagem da UP a fundação e da gestão financeira e das verbas atribuídas pelo Estado ao ensino superior.

Enquanto candidato a reitor da UP apresentou um programa intitulado “Uma Universidade com Ambição, Socialmente Responsável e Empenhada na criação de valor.” Até agora, tem exemplos concretos da construção desta universidade?

Penso que sim, embora ainda só estejamos a meio do mandato. Neste momento a UP está com ambição. Tem 32 empresas criadas, que estão na incubadora. Tem preocupações em, através do conhecimento, criar valor económico e social. Financeiramente somos das poucas que se tem aguentado. Percebemos que é preciso gerar receitas próprias para ser sustentável. Também procuramos que os nossos cursos dêem respostas, porque cursos com um número muito baixo de alunos não são sustentáveis. Do ponto de vista ambiental, vamos assinar um protocolo com a Quercus e mesmo a nível interno existe a preocupação em transmitir valores ambientais aos jovens.

A UP voltou a ser a mais procurada, é também a que tem melhores médias. Em que é que quer apostar para que a UP continue a ser atractiva para os novos estudantes?

Ser sempre melhores. Oferecer cursos cada vez mais atractivos e mudar algumas características dos cursos que oferecemos. Nalgumas áreas é necessário investir em cursos multidisciplinares, ser criativo na oferta, dar uma formação sólida, exigente e contribuir para estruturar pensamento, que dá ao estudante a capacidade de aprender ao longo da vida.

[Queremos] Continuar a divulgar a universidade pelo país. E nesse sentido temos a Universidade Júnior e a Mostra da UP, para além de que procurarmos uma participação forte na comunicação social, mostrando o que fazemos e os sucessos que alcançamos.

A nível internacional, queremos ir a muitas feiras e participar em muitas redes de universidades estrangeiras. Neste momento temos um protocolo de cooperação e mobilidade com universidades ibero-americanas. Estamos também a trabalhar em protocolos com as universidades do tope 100 e do tope 5 dos rankings internacionais, porque precisamos que os melhores nos estimulem. Tudo isto é fruto de um trabalho intenso, com a preocupação de que a qualidade seja o primeiro factor que nos move.

Em 2007, a UP foi responsável por 22,4% da produção científica nacional. É uma clara aposta da universidade?

Claro, queremos continuar a apostar. Estamos longe dos índices internacionais e ainda temos de “pedalar” muito, mas a nível nacional estamos na vanguarda. Queremos que todas as faculdades se mobilizem nesse sentido. É uma estratégia que envolve vários braços, a “atacar” ao mesmo tempo para que haja mais produção científica. Estamos a envolver, desde cedo, os jovens na investigação. E vamos implementar um programa para novos coordenadores de projectos, para que possam ganhar experiência e vir a concorrer a projectos internacionais.

Estamos a dar muito apoio a projectos de investigação para que concorram a programas de financiamento internacionais em parceria com outras universidades, o que nos dá mais visibilidade noutras paragens e arranja verbas para financiar a investigação que fazemos.

Os resultados dos estudos feitos indicam que há cada vez mais licenciados desempregados ou que não estão a trabalhar na área de formação. O que fazer para reduzir os números?

Sou totalmente contra dizer que não se oferecem cursos com emprego imediato ou pensar que a pessoa vai exercer uma profissão rigorosamente na área em que se formou. Isso já foi chão que deu uvas. Já não é verdade, nem deve ser. A primeira formação é para ganhar competências de empregabilidade e não de emprego. Depois na vida profissonal a pessoa vai procurar a área onde vai encontrar emprego, também a universidade deve ter capacidade de lhe dar formação nessa área de emprego.

E considera que Bolonha favorece a empregabilidade?

Sim, é esta a capacidade de abertura que Bolonha trouxe. Não carimbar ninguém, isto é, não é dizer: “fizeste Engenharia só podes ser engenheiro”. Isto não é verdade. Ao longo da vida a pessoa vai fazer várias formações, reciclagens, mudar de caminho várias vezes. Se tiver capacidades, estiver treinado para pensar, se estudar e for autónomo pode por si só encontrar outras formas de conhecimento. Não se travem as pessoas. Não sou a favor do “aquele curso não tem emprego, corte-se o curso”. Provavelmente daqui a cinco anos volta a ter emprego e depois não há ninguém que o faça.