A escravatura como é apresentada nos livros de História acabou, mas existem hoje novas formas desta realidade que a colocam nos níveis mais altos de todos os tempos. No século XXI há mais escravos do que em qualquer outra época da história mundial. É a chamada “escravatura moderna“.

A ideia é reforçada pela coordenadora de campanhas e estruturas da Amnistia Internacional (AI), em Portugal, Luísa Marques. “A escravatura, na sua perspectiva histórica, em que o escravo era legalmente considerado como uma mercadoria e vendido em praça pública, foi claramente abolida na legislação em todo o mundo”, explica.

No entanto, “novas formas de escravatura têm surgido no contexto da globalização e os pressupostos são ainda semelhantes aos que durante séculos inferiorizaram milhares de pessoas”.

12 milhões de escravos

Um estudo divulgado em 2005 pela Organização Mundial do Trabalho aponta para a existência de cerca de 12,3 milhões de pessoas vítimas de escravatura no mundo. A organização não governamental Free The Slaves (FTS) vai mais longe e estima esse número em 27 milhões.

24 milhões estão localizados na Ásia, o que coloca esta região do planeta no centro da escravatura moderna. Seguem-se a América Latina, com 1 milhão e 300 mil escravos, e o conjunto África e Médio Oriente, com cerca de 920 mil. Noventa dólares, cerca de 70 euros, é o preço médio de venda de um escravo no mundo, estima a FTS.

Formas de escravatura menos visíveis

A escravatura moderna assume actualmente várias formas: o tráfico de seres humanos para exploração sexual e laboral, o tráfico de pessoas para a venda de órgãos humanos, a exploração laboral dos trabalhadores migrantes, a escravatura sexual na prostituição e como forma de intimidação em contexto de guerra, o uso de crianças em conflitos armados e o tráfico de crianças associado às redes de pornografia infantil.

Luísa Marques explica que estas “são formas de escravatura menos visíveis que tornam mais difícil o seu combate. Exploram a vulnerabilidade e as carências, especialmente financeiras, das potenciais vítimas que muitas vezes são apanhadas nestas redes, sem se aperceberem que se tornaram escravas. Trabalham em condições degradantes, são obrigadas a viver em habitações sobrelotadas e são sujeitas a outros abusos, incluindo maus-tratos físicos, por parte dos empregadores e agentes de recrutamento”.

Neste novo cenário, “as minorias, as populações mais carenciadas e as pessoas que de uma forma geral são percepcionadas como mais frágeis, como as mulheres e as crianças, continuam a ser os alvos preferidos”, explica Luísa Marques.