“Dar visibilidade”

Os ciberjornalistas acreditam que o seu trabalho é desvalorizado pelos outros jornalistas, concluiu o estudo. Foi também para “dar visibilidade a esta área, muito apagada”, que nasceu o Observatório do Ciberjornalismo (ObCiber), do qual Helder Bastos é um dos fundadores, e os Prémios de Ciberjornalismo, que serão anunciados e entregues a 12 de Dezembro, no I Congresso Internacional de Ciberjornalismo, na Universidade do Porto.

O jornalismo online português encontra-se num “impasse”, depois de uma fase de “euforia” que durou apenas entre 1999 e 2000, defende Helder Bastos, professor da Universidade do Porto, que concluiu recentemente uma tese de doutoramento sobre o tema “Ciberjornalistas em Portugal: Práticas, Papéis e Ética”.

A tese, defendida com sucesso na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, é a primeira sobre o jornalismo online feito em Portugal.

Efeito dominó

Através de um inquérito a 67 jornalistas que trabalham em meios online, Helder Bastos concluiu que as práticas, os papéis e os questionamentos de ordem ética dos ciberjornalistas portugueses encontram-se limitados devido a um enquadramento histórico, empresarial, profissional e formacional desfavorável.

Entre os diversos factores, há um que “provoca o maior efeito dominó”: “a economia do ciberjornalismo”. “Nunca se conseguiu encontrar um modelo que desse para pagar os salários dos jornalistas”, afirmou ao JPN.

Mesmo ao nível regional há um “amadorismo a nível empresarial” que não permite a evolução do género. Porém, Helder Bastos vê “um factor que pode vir a alterar alguma coisa: a percepção que os mais jovens estão a ir para a Net” em detrimentos dos outros meios.

Falta debate ético

Este contexto de “estagnação” dura desde o início do jornalismo online português, em 1995. Foi interrompido apenas por volta de 1999 e 2000, na recta final do boom global das empresas de novas tecnologias. Pelo meio, houve “alguns investimentos contracorrente, mas nada que contrariasse a estagnação”, nota Bastos.

O “subdesenvolvimento” deste género de jornalismo em Portugal relega para um segundo plano o questionamento ético. “A esmagadora maioria dos ciberjornalistas acha que os jornalistas e os ciberjornalistas devem partilhar as mesmas questões éticas. Quase metade acha que o ciberjornalismo não levanta novas questões éticas”, diz.

Segundo o docente de Ciberjornalismo, “falta discussão” sobre problemas e questões específicas do género. Cita, por exemplo, o debate noutros pontos do mundo sobre fazer ligações para outros sites, a ligação entre publicidade e informação e a legimitidade do uso de vídeos com direitos de autor, oriundos de serviços como o YouTube, como exemplos de discussões que não estão a acontecer em Portugal.

Quase metade não sai em reportagem

Uma das conclusões que mais “espantou” Helder Bastos foi constatar que a interactividade com os leitores ocupa pouco tempo nas rotinas dos jornalistas, quando ela é “uma das imagens de marca do ciberjornalismo”.

Quase metade dos jornalistas raramente sai em reportagem e o dia-a-dia é ocupado, em grande parte, a editar textos de agências noticiosas.