Um trabalho de fácil acesso

Vender castanhas parece não ser um trabalho de difícil acesso. Arminda Mota diz que só foi preciso pedir o cartão de vendedor. Sempre lhe foi concedida a licença de venda no Bolhão. Francisco Ferreira explica que os vendedores têm um “local marcado” e só podem parar o seu carrinho no sítio indicado pela licença.

Com a chegada do frio, o Porto é invadido pelos carrinhos velhos dos vendedores de castanhas. Nesta altura, os pontos principais da cidade enchem-se de cheiros e sabores.

Francisco Santos tem 60 anos e é uma das três pessoas que tem licença para vender castanhas na Rotunda da Boavista. Já foi carpinteiro, quando era mais novo, mas percebeu que o dinheiro que ganhava não era suficiente para as despesas. A venda de castanhas pareceu-lhe a opção mais acertada para ganhar mais algum dinheiro. Começou nesta vida há mais de 40 anos e nunca mais parou. Hoje em dia é reformado e dedica todo o seu tempo a vender castanhas.

Um trabalho duro

Este é um trabalho duro: tem de aguentar o frio e a chuva do Inverno, apenas abrigado por um grande guarda-sol que cobre o seu carrinho. Mesmo assim, garante que não abdica do seu trabalho, que lhe dá grandes alegrias.

Francisco tem as mãos calejadas e negras, tingidas pelo carvão e marcadas pelo trabalho. Mesmo assim, entre um e outro cliente, conversa alegremente com alguns amigos. A venda de castanhas não é um trabalho lucrativo, mas “vai dando para a tigelita da sopa” e isso parece ser suficiente. A crise tem afectado este sector: num dia mau, não vende sequer dez quilos.

Arminda Mota é também vendedora de castanhas. Quando a fábrica onde trabalhava entrou na falência teve de arranjar um outro trabalho. Optou por comprar um carrinho e pedir licença para vender na rua, na zona do Bolhão. No Verão opta por vender gelados e pipocas, que no Inverno dão lugar às castanhas.

As dificuldades são muitas e aumentam quando o Inverno avança e o tempo piora. É nesta altura que as vendas diminuem. “Com a chuva não se vende quase nada. As pessoas vão com os guarda-chuvas, andam cheias de pressa… Com o tempo bom é melhor para todos”.

Apesar destes inconvenientes, Arminda gosta do que faz. “Não há nenhum trabalho que não custe”, diz. A principal vantagem é o convívio, as conversas constantes com clientes e amigos. Arminda tem alguns clientes fixos que fazem questão de a visitar todas as semanas.

Que futuro?

O futuro não se apresenta muito risonho para os vendedores de castanhas. A maioria são idosos, reformados, que precisam de algum dinheiro extra para abarcar com as despesas.

“Isto enquanto os velhos durarem ainda vai. Os novos muitos já não querem pegar nisto porque isto é um trabalho sujo”, diz Francisco Santos. Também Arminda Mota não prevê um bom futuro para a profissão pois os jovens querem tudo “mais fácil”.