Como é que encarou a chegada de Barack Obam à presidência dos EUA?

Para quem tem anos suficientes para ter vivido o assassinato de Martin Luther King e todas as grandes manifestações no Sul dos Estados Unidos para conseguir direitos para os negros, isto é fantástico. Tem um simbolismo muito poderoso para qualquer americano um negro inteligente conseguir ganhar uma eleição contra o lado mais conservador e retrógrado.

E o valor, evidentemente, não é só simbólico. Espero bem que ele possa mudar muitos aspectos da política norte-americana, como esta guerra no Iraque. Está a custar 12 mil milhões de dólares por mês e porquê? O Iraque é um país menos seguro do que era há 10 anos atrás. E a economia é um desastre, a ecologia, o ambiente, a saúde nacional, a educação, há muitos assuntos importantes.

E receios, acha que Obama os deve ter?

Claro, deve ter muitos receios. Primeiro, as expectativas vão ser muito altas porque Bush foi um desastre para os Estados Unidos. Muitas pessoas vão ter expectativas impossíveis, vão acreditar que ele vai mudar tudo dentro de dois anos. Há problemas que foram criados ao longo de séculos. Resolver problemas ambientais vai levar 10, 20, 30, 50 ou 100 anos, mas ele pode começar.

Ele representa uma mudança total. Mas ainda vai haver racismo, outros problemas, ele não pode mudar tudo isso. Vai haver camadas de gente mais conservadora, e uma pequena fracção deles totalmente louca, que não vão gostar nada desta mudança radical na sociedade americana.

Considera que os EUA ainda são a “terra das oportunidades”?

Sim, mas isso não significa que não haja outras terras de oportunidades. Portugal, hoje, é a terra prometida para muita gente de África, da Europa de Leste, para muitos brasileiros.

É fantástico Portugal, que era um país de emigrantes durante séculos, estar a tornar-se um país de imigrantes. Todos temos de encarar isto como uma grande oportunidade, não só para os imigrantes, mas para nós! Daqui a 10 anos a sociedade portuguesa vai ser muito mais rica.

Além da diversidade cultural, é a multiplicidade dos pontos de vista.

Pontos de vista, pensamentos que vão trazer outras maneiras de criar cultura, ideias sobre economia, sobre tudo. É fantástico conhecer pessoas de outros países e ter que reflectir sobre a nossa maneira de pensar.

Há sempre algo de novo para descobrir.

É, é isso! Não percebo esta gente xenófoba ou de direita que encara a imigração como ameaça. É só uma ameaça para quem não quer trabalhar e para quem não quer pensar. Mas eu estou-me nas tintas para gente que não quer trabalhar, nem pensar. (risos)