A “personalização” da mensagem política juntamente com a “expansão” dessa mesma através da Internet foram veículos decisivos para a vitória de Obama. Quem o diz é Rick Ridder, antigo consultor político de Bill Clinton e Al Gore, ex-presidente da Associação Internacional de Consultores Políticos.

Ridder explicou, numa palestra aos alunos do curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto, esta terça-feira, as razões por detrás da estratégia de sucesso do Partido Democrata em 2008. “Obama individualizou a mensagem” ao dar voz aos seus apoiantes na corrida eleitoral, aos aspectos pessoais que os faziam querer uma mudança, e ao reafirmar que essa dependia do eleitor.

O consultor democrata defende que toda essa forma de comunicação e apologia da “mudança” não vai acabar, simplesmente “transfere-se” da campanha para a Casa Branca.

Novos media favoreceram Obama

Além disso, a equipa democrata soube utilizar os novos media em seu proveito. Essa mensagem “individualizada” foi divulgada em larga escala graças à instantaneidade da Internet, por via de 16 redes sociais (como o Facebook e o MySpace) e pelo uso recorrente de vídeos na Net.

“Os republicanos usavam o e-mail para a difusão partidária, enquanto os democratas tiraram proveito da era YouTube em que vivemos”, explicou.

Ao prescindir dos fundos públicos, a campanha de Barack Obama conseguiu angariar o valor recorde de 750 milhões de dólares, tendo usado um terço desse montante em material televisivo, incluindo um documentário que foi exibido em horário nobre por todos os EUA.

Permitiu também investir mais nos swing states, outro dos trunfos do democrata. O Partido Republicano, pelo contrário, esteve sujeito às limitações do financiamento público, o que impediu McCain de fazer mais e melhores apostas.

Palin “sabotou” campanha republicana

O consultor também destacou o “poder da óptica”. Lembrou que nos três debates presidenciais Obama apresentou-se como um político “calmo, jovem e sereno”, enquanto McCain transmitia a imagem de um “idoso mal-humorado”. Além disso, a mestria de Obama na oratória complementou-se com um uso aprumado de técnicas, como falar directamente para a câmara.

Rick Ridder indicou ainda que a escolha de Sarah Palin, candidata a vice-presidente por McCain, acabou por “sabotar” a campanha republicana. A inexperiência da governadora do Alaska para a liderança norte-americana tornou-se evidente nas declarações que fazia em registo público, das quais destacou a entrevista de Kate Couric, na qual Palin revelou-se incapaz de responder às perguntas colocadas.

Outro factor que gerou descrédito para a campanha de McCain foi o descontentamento da população perante a administração Bush. Os democratas assinalaram o candidato republicano como uma “extensão” dos últimos oito anos de Governo.

História de Obama revigorou a noção do sonho americano

O consultor afirmou que Barack, cujo pai é natural do Quénia, afirmou-se como uma confirmação de que ainda se pode ascender naquela que se auto-proclama a terra das oportunidades “com trabalho e dedicação, sentido moral e inteligência”.

Destacou que a aceitação de Obama pelos europeus gerou um “efeito-espelho”: os americanos aperceberam-se e sentiram-se induzidos a apoiar o político que reúne um apoio mundial.

Ridder completou com o facto de que os norte-americanos estão cansados de serem estereotipados e de quererem uma reaproximação da nação com o resto do mundo. “Espero que ele volte a reunir os EUA com outros países e organizações, a restabelecer alianças” foi o voto de Ridder para o que diz ser “uma nova era”.