Num momento em que o vazio deixado pela concessão do Rivoli a Filipe La Féria se faz sentir no circuito de espectáculos de dança contemporânea do Porto, surgem vozes críticas contra Serralves.

Rivoli: fez-se a “contestação possível”

Todos concordam que a concessão do Rivoli debilitou o fluxo de espectáculos de dança contemporânea no Porto. Mas será que artistas e público lutaram o suficiente para incitar à mudança? Cristina Grande diz que não: “Resignaram-se um pouco, a contestação morreu rapidamente”. Isabel Alves Costa acha que houve a “contestação possível”. Joclécio Azevedo, coreógrafo e director do NEC, afirma que os artistas mostram o seu desagrado pelo facto de “resistirem”, de continuarem a desenvolver projectos no Porto “sem ter condições financeiras e estruturais”.

Né Barros, bailarina e coreógrafa do Balleteatro, considera que a fundação “podia desenvolver uma programação mais regular” de dança contemporânea. Paulo Vasques, da direcção do Núcleo de Experimentação Coreográfica do Porto (NEC), concorda: “a regularidade de programação de dança paralelamente aos ciclos de exposições perdeu-se um pouco”.

Cristina Grande, programadora de dança do Serviço de Artes Performativas de Serralves, afirma que a programação de dança contemporânea da fundação não diminuiu nem aumentou. Recorda que o auditório “não se esgota na dança” e que propostas desta área têm de “fazer sentido” articulados com as exposições.

Serralves não pode colmatar a “saudade do Rivoli”

Cristina Grande compreende a “saudade do Rivoli”, mas salienta que Serralves nunca poderá substituir o teatro. Não só porque não é a missão da Fundação, mas também porque o auditório não tem condições logísticas para trazer grandes companhias – tem apenas 200 lugares – ideia que é partilhada por Paulo Vasques.

Nomes de referência internacional na área da dança contemporânea, como Trisha Brown ou Bill T. Jones, já passaram por Serralves. Cristina Grande diz que são companhias apropriadas para um grande auditório de 1000 lugares, pelo investimento financeiro e pelo público que chamam. O convite a estes criadores só se fez pois tinham uma ligação umbilical com “o contexto das exposições”.

Cristina Grande diz que gostava de levar mais dança a Serralves, mas refere que é preciso ter conta também os condicionalismos do orçamento.

Teatro Campo Alegre: um espaço para a dança contemporânea

O Teatro Campo Alegre é apontado como uma das estruturas institucionais que poderia servir de braço à dança contemporânea. “É um espaço que poderia ter uma programação regular de dança contemporânea e também de música”, diz Cristina Grande.

Isabel Alves Costa é também da opinião que o teatro devia investir na área. “O Teatro Campo Alegre tem um óptimo palco”, refere a antiga directora artística do Rivoli. No entanto, o facto de ter uma companhia residente, a Seiva Trupe, faz com que o tempo para coincidir com o calendário das companhias “seja complicado”.

O Teatro Carlos Alberto (TeCA) e o Teatro Nacional São João (TNSJ) também são vistos como centros que podiam estimular o circuito da dança contemporânea no Porto. Mas, novamente, nenhuma das estruturas tem a capacidade tomar o papel desempenhado pelo Rivoli.

Segundo Isabel Alves Costa, a vontade dos programadores destes espaços institucionais está subordinada ao orçamento cedido pela Câmara e ao contexto financeiro em que vive. A autarquia faz o “esforço possível” no apoio à arte contemporânea, “concerteza muito menor do que aquele que nós gostaríamos”, diz.

Cristina Grande confessa que gostava de ver o TNSJ a acolher a dança contemporânea. E adianta que a instituição tem como projecto para 2009 “integrar uma programação de dança contemporânea”.