Quem percorre a Rua do Almada não pode ficar indiferente às cores vivas dos espaços renovados que contrastam com o aspecto mortiço das casas antigas e abandonadas.

Antigamente conhecida como centro de estabelecimentos de ferragens, pode-se agora encontrar uma panóplia de lojas “alternativas”. Em poucos anos, transformou-se numa zona frequentada por um público na sua maioria ligado às artes, atraído principalmente por discos de vinil, peças únicas de design e vestuário vintage.

Em 2003, com a abertura da Retroparadise, deu-se início a um novo ciclo na Rua do Almada. No ano seguinte, apareceu a Louie Louie, em 2005, o espaço cultural 555 e, em 2006, a Casa Almada, o Maria Vai Com As Outras, a Embaixada Lomográfica, a Zona 6 e a Lost Underground. Desde então não abriram mais espaços. O 555 encerrou portas e a Louie Louie e a Embaixada Lomográfica desceram na rua e dividem agora uma nova loja.

“A Rua do Almada tem tido altos e baixos”, comenta Mariana Costa, uma das proprietárias da Zona 6, loja que grava e vende discos de vinil. Também Ana Caeiro, do Maria Vai Com as Outras (misto de loja, café e livraria), confessa que em dois anos nesta rua ainda não percebeu a sua verdadeira dinâmica.

Muitos espaços devolutos

O comércio “alternativo” atrai um público específico e muitos comerciantes optaram pela Baixa do Porto para criar o seu negócio nesta área. “A Baixa é lindíssima e aquela ideia de continuar a ter uma Baixa ‘fantasma’ não me agrada. Sinto-me muito melhor aqui do que em qualquer superfície comercial”, adianta Mariana Costa.

O comércio “alternativo” também liderou uma revitalização da Rua do Almada, mas ainda são imensas as casas devolutas. “A verdade é que se a câmara se mexesse e pegasse nestes espaços, que estão devolutos, e os pusesse habitáveis, havia muito mais dinâmica nesta rua”, diz o proprietário da Louie Louie, partilhada por todos os outros comerciantes.

“Fico muito espantada quando vejo a autarquia preocupada em construir isto e aquilo e incluir no plano de reabilitação da cidade várias ruas e uma que estava a ter um boom ser completamente esquecida. Foi aquilo que aconteceu”, critica Mariana Costa, da Zona 6.

“Sinergia” entre o vinil e a Lomo

Recentemente, reabriu a Embaixada Lomográfica, por Jorge Taveira e Lina Correia, na parte inferior da Rua do Almada, que divide, agora, o espaço com a loja de discos Louie Louie.

A ideia desta junção partiu da Embaixada Lomográfica e foi imediatamente aceite pelo proprietário da Louie Louie, Rui Quintela. Jorge Taveira justifica a união: “achámos que era interessante juntarmos a fotografia à música. Assim, fazíamos um espaço mais interessante para toda a gente, não só de passagem, mas para estar um bocado a ouvir música, a ver umas máquinas [fotográficas]”.

O conceito de ambas as lojas foi alargado: o novo espaço também conta com uma galeria, onde vai haver exposições de fotografia, intervenções artísticas e também música.

Rui Quintela, da Louie Louie, esteve durante quatro anos na parte de cima da rua. Com esta mudança acredita que criaram “uma sinergia entre os dois” espaços. Segundo os proprietários, o espaço anterior da Embaixada Lomográfica era muito pequeno e a antiga Louie Louie estava muito velha, daí a mudança. “Obviamente que estamos numa zona com mais circulação e, se calhar, vamos começar a ter mais público”, admite Quintela.