Há 10 anos atrás não era vulgar entrar numa sala de aula e ver alunos com telemóvel. Hoje, esta imagem espalha-se das salas dos mais velhos às dos mais novos. Na Escola EB 2/3 de Miragaia, no Porto, como em tantas outras do país, há alunos que escondem o telemóvel debaixo da mesa para fugir ao olhar atento dos professores. Basta um pequeno desvio para que os jovens esqueçam a matéria e se concentrem na tecnologia.

Efeitos negativos

Orlanda Cruz, professora da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto e psicóloga do desenvolvimento, considera que o telemóvel pode ser um factor de proximidade para com os pais, mas afirma que se usado na escola “a criança está a quebrar uma regra e a não acompanhar a aprendizagem, correndo o risco de ficar para trás, bem como de retardar o seu percurso escolar”.

De acordo com um estudo realizado pelo Centro de Investigação e Estudos em Sociologia do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa em 2007, o “E-Generation” [PDF], a esmagadora maioria dos jovens de idades compreendidas entre os oito e os 18 anos (num universo de 1353) tem telemóvel. A percentagem (96,6%) é reveladora do panorama que se torna cada vez mais comum.

Se, por um lado, o telemóvel pode tornar-se num instrumento facilitador do controlo dos pais, por outro há que ter em atenção o seu uso excessivo, alertam os especialistas.

“Diferença abismal”

Pedro Seixas, professor de Matemática na Escola de Miragaia, acrescenta: “Apesar de ser proibido o uso do telemóvel na sala, os alunos continuam a usá-lo. Há situações em que, durante a aula, o professor é obrigado a chamar a atenção várias vezes para não enviarem mensagens. Normalmente pedem para pôr o telemóvel em cima da secretária para ver as horas, mas isso acaba por ser um pretexto para comunicarem entre eles”.

A situação, diz, é mais habitual nos alunos menos aplicados.

A idade média com que os inquiridos do “E-Generation”, a nível nacional, adquiriram telemóvel é de 11,8 anos. Um número que manifesta uma tendência transformadora: “É uma diferença abismal. Quando comecei a dar aulas, há cerca de oito anos, não havia uso de telemóveis dentro da sala de aula. Agora, a cada ano que passa, noto que as novas tecnologias estão cada vez mais ao alcance de todos e as crianças estão propícias a lidar com isso”, afirma o professor.

E, se é verdade que as crianças adquirem telemóvel cada vez mais cedo, este é um factor que pode servir de afirmação ou socialização entre os colegas. Segundo o estudo, 44,1% dos jovens considera que o telemóvel permite identificar o estatuto social, algo que Pedro Seixas também detecta entre os seus alunos.