Depois de treze anos à frente da instituição, Isabel Alves Costa quis deixar “um marco”. Por isso, dedicou-se à escrita de “Rivoli 1989-2006”, uma forma de responder ao seu “dever cívico” de “documentar” a história.

São quase quatrocentas páginas de descrição “exaustiva” de todos os eventos que o Teatro Rivoli recebeu, desde a compra do equipamento pela Câmara Municipal do Porto, em 1989, até à alteração do modelo de gestão, em 2006, com a concessão do equipamento ao encenador Filipe La Féria.

A ex-directora artística confessa que o livro é o seu “ponto final”, mas também um “ponto de partida” para um debate sobre a “função, o financiamento e o funcionamento dos teatros municipais” e a “necessária autonomia face aos poderes políticos”. “Uma discussão bem mais interessante, já que sobre o Rivoli não há muito mais a dizer”, atira Isabel Alves Costa.

A programadora sublinha que “não é verdade que as pessoas não iam aos espectáculos”. Os cortes orçamentais a partir do Porto 2001 foram o verdadeiro problema, já que “os custos de programação não cobriam os custos de estrutura”.

“Não se percebe qual é a política cultural da cidade”

Isabel Alves Costa traça um quadro negro ao observar o cenário das artes performativas no Porto. “Não se percebe qual é a política cultural da cidade”, diz, sublinhando a ausência de apoio “à criação artística e aos criadores”. Em contrapartida, há uma “aposta clara” no “entretenimento”, com a organização de “mega-espectáculos que atraem milhares de pessoas” a eventos como o Red Bull Air Race ou o Circuito da Boavista.

Numa altura em que a cidade está “parada e cinzenta”, Isabel Alves Costa não deixa de destacar a importância da iniciativa privada. “Há um fenómeno interessante de gente muito nova, fora das instituições, que têm encontrado formas de fazer coisas”, afirma, referindo as lojas alternativas de Miguel Bombarda ou as actividades nocturnas na rua Galeria de Paris.

“É uma espécie de movimento underground” que, em conjunto com a ADDICT – Agência para o Desenvolvimento das Indústrias Criativas, pode “revitalizar o tecido artístico da cidade”.