Primeiro, Manuel Pizarro ouviu as preocupações do presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) sobre as perspectivas de trabalho para os futuros médicos. Em resposta a Rui Reis, o Secretário de Estado da Saúde garantiu que “o desemprego médico não será um problema em Portugal.” Segundo o governante, “ainda existem cerca de 400 mil cidadãos sem médico de família” e “muitas oportunidades de emprego no interior do país e até mesmo no estrangeiro”.

Manuel Pizarro foi uma das figuras em destaque na Sessão Solene que assinalou, esta quarta-feira, o 184º aniversário da FMUP [Vídeo]. Perante uma plateia repleta, assumiu que há um “desequilíbrio nas especializações” e que “faltam médicos de clínica geral”. Pretexto para desafiar os jovens médicos a “colmatar a carência” em certas zonas do país.

O Secretário de Estado apelou, ainda, ao debate sobre a qualidade da formação dos médicos portugueses. Tudo para que aquela “não seja posta em causa” com o aumento do número de vagas em Medicina.

FMUP tem cem alunos a mais

O optimismo de Manuel Pizarro contrastou com as críticas que se fizeram ouvir, na Aula Magna da FMUP, à actual política de formação de médicos em Portugal. Os alvos foram a sobrelotação de alunos nos cursos de Medicina e a redução do financiamento das faculdades.

Reitor em defesa da fundação

Poucos dias após a confirmação da passagem da Universidade a fundação pública de direito privado, o assunto marcou a intervenção de José Marques dos Santos no aniversário da FMUP. Marques dos Santos vincou as “vantagens” associadas ao novo estatuto da Universidade, das quais se destacam “o acesso a verbas complementares” e a possibilidade de uma “maior eficácia do processo decisório”. Depois do longo processo de discussão que levou à alteração dos estatutos da Universidade, Marques dos Santos apelou à “coesão interna” como forma de “afirmação” da UP. “Se formos vistos como Universidade, ganhamos todos”, desafiou.

Sobre o aumento de alunos em Medicina, José Agostinho Marques, director da FMUP, explicou que a faculdade, “com as instalações actuais, mais as novas instalações (com inauguração prevista para meados de 2010), tem capacidade para 190 estudantes por ano. Neste momento, já tem mais 100 do que esse número”, alertou. Uma preocupação que já tinha sido manifestada ao JPN por Nuno Montenegro, vice-presidente do Conselho Directivo da FMUP.

Também Rui Reis, presidente da AEFMUP, referiu que “o projecto do novo edifício já não se coaduna com o número de alunos”. No discurso mais duro da sessão, o representante dos estudantes criticou o aumento das vagas de Medicina e classificou de “utópica” a falta de médicos em Portugal.

FMUP sofre “discriminação negativa”

Aproveitando a presença de Manuel Pizarro, Agostinho Marques denunciou, ainda, “problemas na contratação de pessoal “devido à redução de verbas atribuídas à FMUP. O responsável acusa o governo de “discriminação negativa” para com a faculdade, a qual terá perdido financiamento por “apresentar resultados acima da média”.

Apesar de tudo, Agostinho Marques diz que a “faculdade está de novo, e sempre, muito bem”. Mesmo com muitas linhas de opinião divergentes entre os docentes, há “paz interna”, garantiu.

Apelo à cooperação chega do Brasil

O convidado de honra da sessão foi José Luiz Gomes do Amaral, presidente da Associação Médica Brasileira. Num discurso dominado pelo apelo à cooperação entre os países lusófonos, o líder da classe médica brasileira avisou que Portugal e Brasil “se encontram longe dos países com mais produção científica” na área da Medicina. “A regularidade do progresso (da produção científica) deixa muito a desejar”, alertou.

Gomes do Amaral nota, no entanto, que há um aumento da produtividade de todas as instituições lusófonas que cooperam entre si. Facto que, diz o médico, “demonstra a relevância da integração académica na área médica”.

Para além dos discursos na Aula Magna, a festa dos 184 anos da FMUP teve ainda direito a fados académicos e a actuações das tunas da faculdade. Pelo meio, decorreu a entrega dos prémios aos melhores estudantes e a imposição de insígnias aos doutorados e professores agregados.