Um estudo da Amnistia Internacional sobre Mutilação Genital Feminina (MGF) em Portugal, lançado em inícios de Fevereiro, alertava para a “falta de preparação” e conhecimento dos médicos e enfermeiros sobre esta prática.

A investigação conclui que 46% dos profissionais não sabe reconhecer uma situação de MGF e que apenas 13% tem conhecimento da sua realização em território nacional.

Apesar de tudom Ana Rosa Costa, médica ginecologista do Hospital São João, no Porto, acredita que os profissionais de saúde portugueses “estão preparados” para lidar com vítimas de MGF. “Sabem quais são as consequências” e têm as competências necessárias para enfrentar as complicações que podem surgir durante o parto.

Para a Ana Rosa Costa, os médicos e enfermeiros portugueses “não precisam de formação específica” em MGF. Pois, apesar de haver profissionais que não sabem da existência desta prática em Portugal, a classe médica está “preparada para agir num caso especial como este” e não têm uma “reacção negativa”, afirma a ginecologista.

A MGF “não tem grande impacto em Portugal; é raro acontecer”. O que faz com que não haja “grandes benefícios em investir em formação”, considera Ana Rosa Costa. “Nunca houve um caso no Hospital São João”, assinala. O facto de ser “uma situação raríssima” justifica a “falta de interesse” que pode ter levado à fraca adesão dos técnicos de saúde para participar no estudo da Amnistia Internacional.

Contudo, Ana Rosa Costa admite que os médicos “têm de estar consciencializados” para a prática da MGF em solo nacional e que se deve “alertar para este problema”, quer através da “prevenção”, quer pela “penalização”. Mas a sensibilização deve atingir “a sociedade em geral”, não apenas os profissionais de saúde.

Para a ginecologista, as assistentes sociais têm o papel de “fazer o rastreio das mulheres em risco”, de “prevenir” e de “orientar” as vítimas da MGF para os médicos. Os psicólogos representam também uma parte “importante” no combate à MGF, pois “as sequelas psicológicas” exigem um tratamento mais “continuado”.