Há cada vez mais idosos infectados pelo vírus do VIH/Sida, uma situação que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), se deve à prática de relações sexuais desprotegidas e ao recurso a medicamentos contra a impotência sexual, como o Viagra.

Estas são algumas das conclusões do relatório da OMS, anunciado esta terça-feira. O organismo recomenda, por isso, a promoção de campanhas de prevenção voltadas para a população com mais de 50 anos.

Nas páginas do estudo pode-ser ler, também, que o número de idosos americanos com Sida passou de 20 para 25%, entre 2003 e 2006. No mesmo período, o Brasil contabilizou o dobro dos casos, enquanto que, na Europa, os dados de 2005 mostram que 8% dos infectados são idosos.

Portugal parece contrariar esta tendência global. De acordo com um relatório do Centro de Vigilância Epidemiplógica das Doenças Transmissíveis do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge, citado, esta quarta-feira, pelo Correio da Manhã, o número de casos notificados de idosos com Sida tem decrescido desde 2004.

“De 176 casos em 2004 passou para 145 (2005), 133 (2006) e 75 (2007). No total, o número de doentes de sida em Portugal com mais de 50 anos desde 1983 cifrava-se, em 31 de Dezembro de 2007, nos 1934 casos”, refere o jornal.

Os números podem enganar

O coordenador nacional para a infecção VIH/Sida, Henrique Barros, afirma que, em Portugal, os dados confirmam o aumento do contágio de pessoas com mais de 50 anos, representando agora 5% da totalidade dos casos. O professor salienta, no entanto, que “os números podem enganar”.

“O número de idosos infectados até pode eventualmente ter aumentado, mas os números por si só não provam isso. O que se passa é que agora temos mais conhecimento da situação, pois tem havido cada vez mais rastreios”, explicou ao JPN.

O estudo aponta para a responsabilidade de medicamentos como o Viagra no aumento destes números. Algo que o médico desvaloriza, salientando que “é preciso lembrar que as pessoas agora vivem de forma saudável e até mais tarde, mantendo portanto uma vida sexual activa sem a necessidade de recorrer a tais drogas”. Henrique Barros vai mais longe, ao afirmar que “quem tem dinheiro para comprar o Viagra, também o tem para adquirir preservativos”.

Sobre o incentivo às campanhas de prevenção voltadas para os idosos, o coordenador do programa reconhece a sua importância e ainda a carência que existe no sector, mas prefere centrar-se na responsabilidade do profissional de saúde.

“As pessoas mais velhas sabem os factores de risco. É preciso agora que os profissionais de saúde reconheçam que estas pessoas mantêm uma vida sexual activa e que, portanto, necessitam de informação e cuidados como qualquer jovem de 20 anos”.

Henrique Barros lembra que os avanços no tratamento da Sida permitem que os doentes vivam mais tempo, o que torna pouco surpreendente o aumento do números de pessoas infectadas com mais de 50 anos.