A subida do nível dos oceanos pode chegar ao dobro do que tinha sido previsto para os próximos cem anos, mas Portugal não está preparado para lidar com o problema. A convicção é de Francisco Taveira Pinto, professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), que fala num “problema generalizado” na zona costeira portuguesa, muito vulnerável à subida das águas.

O “défice de sedimentos que chegam à costa”, obrigando o mar a roubar areia das praias, e a “forte pressão urbana” são apontados pelo investigador da FEUP como os principais responsáveis pela erosão costeira. O co-autor de um estudo sobre a reabilitação das obras de defesa costeira na Costa da Caparica defende ainda a prevenção destes factores como a melhor solução: “existem limites de segurança nas zonas mais vulneráveis onde devia ser proibido contruir o que quer que seja”.

Mas a subida do nível do mar é uma realidade inevitável mesmo no melhor dos cenários, e, pelo menos para já, ainda não há planos de emergência ou apoio para os cidadãos afectados. Na Câmara Municipal de Espinho há um plano de emergência municipal, mas não considera o apoio aos habitantes da zona costeira no caso de o mar galgar a praia.

Amílcar Vinagre, responsável pelo planeamento urbano do município, diz que reacção ainda não há, mas já há prevenção. Actualmente, todas as construções feitas na frente marítima de Espinho têm de obedecer ao Plano de Ordenamento da Orla Costeira (POOC).

Nível do mar pode subir duas vezes mais do que o previsto

Reunidos até amanhã em Copenhaga, especialistas ambientais de todo o mundo contrariam as previsões do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC, sigla inglesa) e dizem que dentro de cem anos o mar pode engolir mais de um metro de zona costeira.

Em 2007, o relatório do IPCC previa uma subida do nível da água até aos 59 centímetros, mas os ambientalistas apontam a rápida fusão do gelo polar como o elemento acelerador da subida do nível das águas.

Em comunicado, a organização do congresso avisa que, se não forem tomadas medidas, “até no melhor cenário a subida do nível do mar atingirá zonas costeiras onde habita cerca de um décimo da população mundial”.

As conclusões do congresso realizado na capital dinamarquesa vão servir de base à “cimeira do clima”, agendada para Dezembro, onde se vai procurar um acordo sucessor do Protocolo de Quioto, que acaba já em 2012.