A aposta no local e regional pode ser uma das soluções para muitos jornais portugueses. Alfredo Maia, presidente do Sindicato dos Jornalistas (SJ), diz que “os meios de informação estão a subestimar a importância da informação local e regional”, que considera fundamentais para a promoção da cidadania.

Para o líder do SJ, “as empresas têm uma visão excessivamente economicista da gestão de um sector que não é como os outros”. Alfredo Maia destaca ainda que os despedimentos recentes levados a cabo pela Controlinveste significam mais um “sacrifício de valores fundamentais que põe em causa a qualidade das publicações”.

Os problemas dos órgãos de comunicação social (OCS) portugueses têm vindo a agravar-se com a crise económica. A saturação do mercado, que impedia a entrada de jovens profissionais, adquire novos contornos e manifesta-se cada vez mais através de despedimentos.

Para Alfredo Maia, “a pretexto da crise as empresas estão a aproveitar para emagrecer os seus quadros redactoriais e com isso reduzir os custos com a mão de obra e em especial com os jornalistas”. O sector media não deve ser encarado em função do lucro, acrescenta.

Helena Lima, docente no curso de Ciências da Comunicação da UP, refere que o crescimento do jornalismo online tem contribuído para a quebra na venda dos jornais. Por outro lado, concorda com Alfredo Maia quando diz que a perda do cariz local e regional das publicações é outra das razões apontadas para o cenário actual.

O “Jornal de Notícias” (JN) é um dos exemplos da descentralização da informação. Na tese de doutoramento, Helena Lima associa o afastamento dos centros de decisão política e económica do Porto à ausência de manchetes locais no JN, assim como ao desaparecimento do “Comércio do Porto”e ao enfraquecimento do “Primeiro de Janeiro”.

Numa altura em que cresce o descontentamento dos portugueses [Vídeo] com o trabalho dos órgãos de comunicação social, a maioria pede mais inovação e jornalismo de investigação.

Diversidade e pluralismo informativos em risco

A “partilha de conteúdos” entre os OCS é outro dos factores que Alfredo Maia associa ao panorama de crise verificado actualmente. “Vai acabar com a diversidade e o pluralismo no tratamento da informação, avisa o presidente da SJ, lembrando que na base dos despedimentos da Controlinveste está um plano que pretende a concentração de redacções dos diferentes jornais do grupo. “O processo de despedimento colectivo assumiu preto no branco que pretende fazer a partilha de conteúdos”, refere.

Certo é que as políticas que visam o lucro podem ter efeitos contrários, já que a oferta informativa pouco variada pode gerar desinteresse nos consumidores. Alfredo Maia alerta: “Não é aceitável em termos de diversidade e pluralismo informativo que uma mesma crónica, notícia ou reportagem seja publicada simultaneamente em vários jornais”.

A utilização do trabalho dos mesmos jornalistas em diferentes publicações representa, segundo o presidente do SJ, “um sério risco para a própria qualidade da democracia”. Risco que os profissionais da comunicação estão dispostos a combater. André Monteiro, jornalista do “Record”, acredita que a solução passa pela “real união da classe jornalística”, que deve ultrapassar os “interesses individuais” de cada OCS.