Dez anos depois da assinatura do acordo de paz, movimentos ligados ao Exército Republicano Irlandês (IRA) voltaram a manifestar-se. Facções do grupo separatista reivindicaram a autoria dos dois atentados ocorridos nas últimas semanas na Irlanda do Norte, que vitimaram três pessoas.

O primeiro atentado ocorreu no sábado, dia 7, numa base do exército britânico situada no nordeste de Belfast e resultou na morte de dois soldados. O IRA-Verdadeiro, facção dissidente do Exército Republicano Irlandês, assumiu o atentado.

10 anos de silêncio

O Exército Republicano Irlandês, grupo paramilitar católico e reintegralista, luta, há 45 anos, pela separação da Irlanda do Norte face ao Reino Unido e posterior reanexação à República da Irlanda. Depois do acordo assinado em 1998 – Acordo de Sexta-Feira Santa – e o desmantelamento das armas em 2005, o IRA – cujo braço político é o partido nacionalista Sinn Fein – interrompeu a sua actividade.

Dois dias depois, novo ataque. A 9 de Março, um polícia do Ulster foi morto a tiro quando patrulhava o bairro republicano de Craigavon, perto da capital. Desta vez, o atentado foi reivindicado pelo IRA-Continuidade, outro dos grupos dissidentes do IRA..

Certo é que o anúncio do fim da luta armada em 2005 e a deposição das armas foi quebrado, colocando novos obstáculos à reconciliação entre católicos e protestantes. “Nós estamos à beira do abismo”, alertou Dolores Kelly, membro do conselho da Polícia por parte do Partido Social-Democrata, citada pela Associated Press.

Ataques não assinalam “em definitivo” regresso do IRA

Mas as opiniões divergem. Para o investigador e professor de Ciência Política da Universidade do Porto, Rui Novais, “o ataque não assinala o recrudescimento da IRA em definitivo”, mas é “revelador” dos “anticorpos ainda prevalecentes de antigos membros da organização que não aceitam a solução de deposição das armas nem o status quo do actual processo político mantendo viva a intenção de reunificação da Irlanda”.

Recorde-se que os ataques foram contestados pelos protestantes da “ala dura”, membros Sinn Fein, o braço político do IRA. Também o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, veio a público condenar os atentados. Para Rui Novais, “a onda de repúdio por parte de todos os quadrantes do espectro político e das filiações religiosas é reveladora do grau de consolidação do actual sistema de governo partilhado em vigor na Irlanda do Norte”.

Fonte da Embaixada da Irlanda em Portugal lamenta os incidentes mas afirma que ambos os países estão determinados a respeitar as vontades dos britânicos e irlandeses.

Perigo iminente

Teme-se, agora, uma escalada de violência caso os protestantes reajam aos ataques dos extremistas católicos, levando a colapso o processo de paz que se arrasta há anos.

Sexta-feira, centenas de pessoas assistiram ao último adeus a Stephen Carroll, de 48 anos, o polícia assassinado. A alguns metros do local do crime foi encontrada uma inscrição num muro onde se podia ler “Ainda em guerra”, à qual se juntava uma sigla do IRA-Continuidade, cisão do Exército Republicano Irlandês que reivindicou o ataque.

Já foram detidas onze pessoas por presumível ligação aos assassinatos.